quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

FOME....E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

O diretor-geral da FAO (a agência da ONU para Alimentação e Agricultura), Jacques Diouf, afirmou que para dobrar a produção de alimentos no mundo e eliminar a fome, US$ 30 bilhões teriam de ser investidos por ano. Esse investimento é modesto em comparação aos mais de US$ 100 bilhões em subsídios gastos no mundo por ano ou os US$ 1,3 trilhão de gastos em armas anualmente, ou os US$ 100 bilhões gastos com desperdício de comida em um único país, ou os US$ 20 bilhões anuais gastos pelo excesso de comida da população obesa, que se transformam em mais US$ 100 bilhões de gastos com mortes e doenças causadas pelo mesmo excesso...

Assim sendo, como podem as nações mais ricas do mundo dizer que não há como doar US$ 30 bilhões anuais pra salvar 925 milhões que estão literalmente morrendo de fome ao redor do mundo??

Agora mesmo tivemos uma crise econômica causada pela irresponsabilidade de banqueiros, investidores e agiotas, que lucraram horrores com um mercado de faz-de-conta e salários astronômicos, e quando o brinquedo quebrou foram cobrar de nós, que nem brincamos! E lá se vai nosso dinheiro (pago em impostos) pra cobrir o rombo, seja nos EUA (US$ 700 bilhões), Europa (€ 300 bilhões) e até o Brasil, onde nem mesmo os investidores daqui participaram da "brincadeira de hipotecas" (o Banco Central já gastou US$ 22,8 bilhões para segurar a cotação do dólar). É muito dinheiro pra premiar irresponsáveis, não? Muito dinheiro pra jogar bombas em famílias pobres, muito dinheiro pra desperdiçar com comida que vai pro lixo, mas todos os países ficam caladinhos quando o problema é fome, miséria, desigualdade social. Parece ser um problema menor, diante de tantos outros. Obviamente, não é. Mas a maquiagem é tão bem feita, a distração na tela da TV tão bem sucedida, que nos faz até mesmo esquecer que os miseráveis com fome existem aqui mesmo, no Brasil.

Em 2005 uma pesquisa revelada pelo Instituto Getúlio Vargas mostrou que existiam no país 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de indigência (29,3% da população), recebendo uma renda mensal inferior a R$ 80 per capita. E para erradicar este quadro de miséria seria necessário a aplicação de R$ 1,69 bilhão (de REAIS) por mês (2% do PIB), o que significaria uma contribuição mensal de R$ 10,4 por brasileiro, tendo como base a renda per capita do país, que é de R$ 262. Pouco, muito pouco, especialmente quando sabemos que hoje temos reservas de US$ 200 bilhões e que até ano passado tínhamos uma CPMF que nos roubava US$ 40 bilhões ao ano (supostamente para o sistema de saúde, esta maravilha brasileira).

Em 2007 o número de indigentes caiu em 6 milhões, provavelmente pelo efeito da esmola que é o Bolsa Família (melhor do que FHC, que não fez nada e ainda disse que "não há fome no Brasil"). Um fato interessante é que a pesquisa da FGV mostrou também que, desde 1982, em anos eleitorais, a miséria cai 7,6%, mas no ano seguinte aumenta 3,7%. É o problema de dar esmola e não dar à pessoa a oportunidade de viver do seu emprego, obtido a partir da sua qualificação, da sua educação. Porque empregos podem ser tomados, invenções podem ser roubadas, mas o know-how, o conhecimento, esse pode até ser copiado, mas ninguém pode tirar de você.

Será que as pessoas mais ricas não vêem que, enquanto existir gente sofrendo injustamente, vai existir ódio e violência, que certamente vai acabar espirrando pro lado delas? Até quando nossa elite vai achar que pode se esconder do que fazem (direta ou indiretamente) ao mundo atrás de vidros blindados, condomínios fechados e seguranças?

Isso não é nenhuma novidade, vivemos com essas distorções aqui no Brasil desde que nos entendemos por gente, mas o estopim da minha revolta veio diretamente dos EUA. Ô país com metade do povo imbecilizada... Quando Obama falou pro infeliz do "Joe, o encanador" que, quando ele tivesse ganhando US$ 250.000 anuais ele pagaria mais impostos, explicou que era pra que as pessoas abaixo dele tivessem condições de crescer economicamente (ele quer baixar impostos pra 95% da população norte-americana!) e usou o termo "spread the wealth around" (espalhar a riqueza, as boas coisas). Pois logo a massa burra começou a dizer que era coisa de comunista (?), que isso era ruim, e - num movimento que demonstra o quanto os republicanos são estúpidos - apóiam o plano de McCain, que é manter a classe média pagando mais impostos do que os ricos (o que levou Obama a perguntar "quantos encanadores vocês conhecem que ganham 1/4 de milhão de dólares anuais? Bem, eu conheço um). O próprio Joe confessou que não estava nem perto de ganhar os US$ 250.000 anuais que dividem os ricos da classe média, e ele está em dúvida sobre em quem votar. Se isso fosse um episódio dos Simpsons, certamente acharíamos isso uma sátira grosseira, exagerada. Mas não nos EUA. Aliás, a simbiose com os Simpsons é tão grande, que um episódio de Halloween onde Hommer tenta votar em Obama mas a máquina muda pra McCain acabou virando realidade em West Virginia, onde pelo menos 6 votantes reclamaram que as máquinas estavam mudando o voto que eram de Obama pra McCain. Após a denúncia deram uma "recalibrada" nas máquinas...

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