quarta-feira, 29 de julho de 2009

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão de vida ou morte _
será arte?

Ferreira Gullar

Todos os dias deveríamos..........

Todos os dias deveríamos ler um bom poema, ouvir uma linda canção, contemplar um belo quadro e dizer algumas bonitas palavras." Goethe

Sei que vivemos em um mundo onde muitas vezes somos "impedidos" por questões temporais, financeiras, etc de fazer o que Goethe diz acima. A neurose, a obstinação... a vida moderna e suas manifestações do novo, tudo isto é o ópio dos próprios homens chocando-se com o paredão repleto de imperfeições de um corredor sem fim. Na busca incessante pelos prazeres regidos pelo Capitalismo, observamos que os modelos no mundo atual exigem que para alcançá-los nos tornemos super-homens e super-mulheres. Só que não dá para discutir e temos que correr atrás para nos aproximarmos destes estereótipos de SUPER MAN ou MULHER MARAVILHA. Isso é necessário, principalmente para realizarmos os nossos fúteis sonhos de ter um bom emprego, dinheiro no bolso, casa própria, etc. A sede de viver intensamente os prazeres carnais leva o ser humano muitas vezes a esquecer o uso da sua sensibilidade, dos desejos dos seus sentidos, da alimentação de sua alma com coisas nobres e engrandecedores, como a arte, as coisas mais simplórias da vida que enchem nosso peito de alegria...por exemplo. Assim, o homem vive ensimesmado, um bicho concha que não se objeta, mas que faz de sua vida algo nocivo e parasita, vivendo em total poluição mental onde utiliza-se de seu corpo físico para uma infinidade de condutas preestabelecidas. Sempre me impressiono como, de modo geral, as pessoas tratam tão mal os seus sentidos, cinco poderosas “ferramentas” de percepção do mundo e de tudo que existe à nossa volta.

SOLVE ET COAGULA: APOCALIPSE NOW



Não é um trabalho de um artista dar ao público o que o público quer. Se o público soubesse o que quer, eles não seriam o público, e sim seriam o artista. É o trabalho de um artista dar ao público o que ele necessita.

– Alan Moore


Primeiro Ato
.

Chega!

Mil vezes um varredor de rua feliz, do que um normótico de sucesso... Mil vezes um rebelde insatisfeito do que um morno satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito.

Recuso-me de vez à padronização cultural que me força a este estado de constante mediocridade.

Sim! Estou ciente de que não é fácil ser do grupo diferente e arriscado demais resistir ao ambiente...

Mesmo assim... Serei persistente!

Não quero com o avançar da idade, ter num corpo decadente, coração e mente dormentes, na poltrona retraído, distraindo-me com o débil movimento frenético de um controle remoto.

Chega!

Não dá mais para disfarçar este constante medo da vida, este medo da luta e das experiências novas, que aos poucos me rouba o espírito de aventura e o frescor da novidade.

Quero de vez me sentir livre do medo de ser e pensar diferente, ainda que em total desacordo com o padrão socialmente vigente.

Na verdade, farto estou desse falso respeito à arcaica e disfuncional tradição e autoridade...

Quero bradar por todos os cantos deste imenso palco da vida, a beleza deste espírito de descontentamento e de revolta, que agora, me toma por completo...

E não me venha com tuas frases prontas ou com teus arcaicos sistemas de crença organizada, pois os mesmos... Não conseguem mais me iludir...

Tudo isso pode ser muito eficaz para distrair um infeliz iludido, mas não a um feliz insatisfeito consciente.

E tem mais: recuso terminantemente essa ilusória felicidade de segunda mão; quero descobrir algo original, pois até aqui, no que diz respeito à verdadeira felicidade, nada do que me foi dito teve valor.

Cansei de acreditar em políticos, governos e em sistemas de crença organizada, a qual erroneamente, muitos chamam de religião. Nenhuma destas instituições me quer psicologicamente autônomo e auto-suficiente: sei que isso me tornaria um problema para eles.

Mesmo assim: quero deixar de ser ajustado, mecânico e desprovido de surtos criadores.

Já não há mais como aceitar, como a grande maioria, sem a mínima reflexão, aos poucos me consumir consumindo as idiotices criadas por um idiota qualquer.

Pois bem: não sei onde, não sei quando e muito menos quem, disse que ousar é o preço do sucesso... Então, aqui expresso: ouso pelo Supremo, ouso pela Excelência de Ser, pois farto estou desse público e estagnante vicio pelo óbvio!

E não me olhe com teus olhos travados de ideologias, pois quero ser livre de toda influência... Já não tens como me reformar.

E o que será de mim? Não demoro a te responder: serei um desajustado, um nada, um anônimo, um ser livre da doentia expressão da vontade coletiva, secularmente imposta por uma minoria desconhecida...

O que será de mim?... Digo já: serei um imoral diante de teus olhos condicionados. Tudo bem! Não faz mal! Não me importa!

E pode ficar com teus usos, costumes, templos e livros sagrados, pois nada disso me serviu para viver a vida em toda a sua plenitude; muito ao contrário, me mantiveram por anos e anos apenas existindo feito um humanóide...

Sim um humanóide... Um escravo livre, preso na falsa segurança de uma carteira de trabalho assinada e na possibilidade de consumir em suaves prestações, numa importada loja de departamento qualquer...

Chega!

Nunca mais negarei minha liberdade de expressão, minha originalidade em nome das migalhas da aceitação parental e social...

A partir de agora, de todas as minhas células expurgo os tóxicos e familiares você tem que - os quais durante anos me mantiveram preso num ciclo vicioso de medo, culpa e vergonha e que por pouco não fragmentaram por completo meu canal com a Suprema Criatividade.

Chega, pois a partir de agora, Eu decido: serei um artista, um ator, um cantor, um poeta, um dançarino!

O que?... Achas que estou ficando louco?... Ora, ora! Que beleza!... Levam-se anos para chegar nesta santa loucura que a tudo cura.

Portanto, chegue mais perto e olhe... Olhe bem fundo em meus olhos – se é que consegues não desviar os teus dos meus - e veja o que agora ocorre: o velho homem está em seu leito de morte... E não ouse tentar ressuscitá-lo! Deixe que morra!...

Deixe que morra, feito que a morte do antigo é o nascimento do novo!...

Como sei que a estúpida maioria abomina a tristeza e vive a fugir da dor, ainda que doloroso, digo: deixe-me aqui insatisfeito, descontente... Porque debaixo da superfície prospera de minha vida passada, só rotina, frustração, ansiedade, desespero e ilusão eu experimentava.

Portanto, é com seriedade que imploro: deixe que o velho morra!...

Deixe-me ser por livre e espontânea vontade um ser humano dolorosamente sensível...

Chega!

Cansei de fazer parte da enorme massa de manobra sobre a qual, os poucos espertos inconscientemente prosperam materialmente num compasso espiritual decadente. Deixe-me só...

(fim do primeiro ato)

.................................

Segundo Ato

Sim!...

Programado...

Não passo de um computador ambulante. Um ser biológica, física, mental e intelectualmente programado...

É triste constatar, mas, desde criança, programado para ser funcional... FUNCIONAL!...

Para ser um especialista, para ter uma vida em compartimentos, dos quais boa parte deve ficar sempre hermeticamente fechada numa vida de fachada... Um especialista, um mísero ser limitado numa limitada área...

Não passo de uma diabólica e formidável propaganda religiosa, política e cultural, um ser humano de segunda-mão que a tudo aceitou sem a mínima indagação.

Pudera, tanto em casa como na escola sempre proibido me era qualquer tipo de indagação...

É assim e pronto! Cala a boca e vai pro quarto! E se falar mais, apanha! Quer ir para a Diretoria?...

Veja só: um descartável processador de informações de terceiros movido por mouses sem fios... Como não vês: isso é ótico!

Diga-me logo: que fizeram da minha originalidade? Onde está a minha autenticidade? Por que me conformei a repetir crenças feito um papagaio sobre o olhar de seu senhor?

Agora vejo que essa programação que “funcionou” por muitos anos, por pouco não me desintegrou. E agora? Como formatar de vez esta HD cerebral? Como liberar a pesada carga que mais que temporariamente mantive em minha memória? Como ser novamente um indivíduo?...

Sinto medo...

Só de pensar em me abster de tudo que venho tendo como certo há tantos anos...

Meu corpo já começa a dar sinais...

Devo estar ficando louco...

Isso não pode ser real!...

Mas como negar de forma consciente, isso que nas entranhas sinto visceralmente?...

Não!... Nada disso tem a ver com o ser que nasci para ser.

O pior é essa mente que não silencia, com esse acumulo de palavras, esse monólogo de incessante agressividade...

Palavras, palavras e mais palavras... Sou um enorme arquivo de palavras de terceiros que nunca silencia...

Não vês que elas são parte de processos egocêntricos a serviço de interesses egoístas que precisam urgentemente ser colocadas de lado?

Consciente que uma mente repleta de palavras não passa de uma mente vulgar e estúpida, digo já: preciso de silêncio... No entanto, onde encontrá-lo?... Como consegui-lo?...

Como posso aspirar pela Suprema Criatividade, pela Excelência de ser, se feito um ser programado, caminho com uma mente amontoada de símbolos?...

Chega! Não há mais como viver de símbolos, pois os mesmos nunca me fizeram alcançar o simbolizado! O símbolo é algo morto, como um enorme e pesado elefante morto no meio da sala, um enorme empecilho.

Preciso da Verdade, pois tudo isto fede... No entanto, como encontrá-la?...

Chega!

Digo adeus às palavras, símbolos e frases de impacto, pois de nada me servem! Quero sentir-me livre! Livre!

Palavras, palavras e mais palavras!... No tempo em que eu acreditava em palavras era como outros tantos que falam demais por não ter nada a dizer...

Mas agora, nego-as de vez, pois isso que sinto necessitar pressinto não poder ser descrito em palavras...

Só o que não mais necessito pode ser descrito em palavras. Não percebes a inutilidade de tentar expressar esta coisa verbalmente? Não vês que o fato de que as palavras por mais acuradas e precisas, não tem o poder de transmitir a Realidade?

E não te ofendas, mas, de agora em diante, nego todas as receitas que chamam espiritualidade e que na verdade para mim não passam de uma forma doentia de negar a experiência da completude do Ser. Preciso daquilo que está além das receitas e palavras...

Portanto, chega das palavras de terceiros! Não mais!...

Afinal, não deve um homem sujeito a tamanho sofrimento saltar para fora do seu mundo, em vez de procurar valer-se das histórias de quem “talvez” um dia se achou livre de tamanha angústia?

Decido de vez romper com esse emaranhado de palavras e viver de acordo com a fala mansa e suave que quando em silêncio ouço brotar de meu coração.

Pode te parecer loucura, mas sinto que essa é a única esperança de futuro que me resta... Os demais caminhos, já sei onde vão dar, já estive lá mil vezes antes!

Assim sendo, Deixe-me só...

Não há mais como me contentar com a transitoriedade das paixões, a insuficiência das atividades mercantilistas e triviais e a incerteza da afeição humana...

Preciso de silencio... O silêncio profundo do espírito, onde toda palavra se cala e o Supremo se conhece....

Claro está para mim, que somente uma silenciosa mente inocente, é capaz de absorver o Inimaginável.

(fim do primeiro ato)

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Terceiro Ato

Espelho, espelho meu:... Será que algum dia já vivi?

Será que faz sentido a vida humana e as atividades sociais terem como único objetivo a conquista da expansão material?

Será que devo me conformar a isso e permitir que tal expansão seja promovida em detrimento da minha integridade espiritual?

Não sei!...

Para onde quer que eu olhe só vejo o culto ao sucesso. Não é a toa que o medo do fracasso seja o maior fantasma que trago há anos em meus sonhos. E poderia ser diferente?

Claro que não!...

Toda minha educação me instruiu à adoração do êxito aquisitivo. Sempre me induziu ao consumismo irrefletido, desde os tempos de menino com Carrinhos de Ferro e o Forte Apache, depois os tênis de borracha com algumas poucas listrinhas e as calças com etiquetas coloridas que custavam os olhos da cara... Acho que começou tudo ali! E ainda vejo o quanto que tantos se consomem por um carrinho de ferro, erroneamente chamado de popular...

Mas se o sucesso é a verdade, por que tantos, apesar da riqueza, da educação e do sucesso profissional que alcançaram, estão tão insatisfeitos com suas vidas?...

Por que essa profunda fome interior que não sabem como saciar pelos corredores dos novos templos chamados de Shopping Centers?...

Ah!... Se ao menos um desses grandes “mortos de sucesso”, pudesse voltar para falar através das letras de suas músicas, sobre a crônica incompletude do ser que existindo, sem vida, experimentava...

E, em solidão, são tantos os questionamentos que surgem, quando pelas ruas caminho observando o mundo que se apresenta lá fora...

São nesses momentos, que sempre me surgem os bons questionamentos...

Onde está a simplicidade?

Por que é sempre tão difícil manter-se vivo de forma simples e clara?...

Será que as pessoas de sucesso estão preocupadas com a construção de um mundo melhor?...

Será que isso que chamam de amor é realmente Amor?

Não sei!...

Será que o objetivo da vida é o momentâneo sucesso exterior ou seria o permanente desabrochar do espírito que nos torna realmente humanos?...

O que realmente vale a pena perseguir?... Ter uma mente de valor que ultrapassa as barreiras do espaço/tempo, para além de sete gerações, ou ser uma fragmentada pessoa de sucesso momentâneo?...

Quais as conseqüências de ambas as opções?

Não!...

Decido já: o sucesso não me interessa!

Ele pode ser útil para os macacos do circo, mas não a mim...

O que quero mesmo é saber se é possível ou não viver aqui e agora sem essa doentia, separatista e destruidora ambição, apenas sendo o que nasci para ser.

Quero saber se é possível ser intensamente feliz... Sim! Intensamente feliz, vivendo anonimamente neste mundo, como um completo desconhecido, sem ser famoso, ambicioso e cruel.

E para saber.... Sigo pela estrada menos percorrida, uma vez que o mundo inteiro adora o êxito!...

Deixo de lado a mundanidade e, separado da massa, desse turbilhão inconsciente, sigo ao encontro de mim mesmo.

E resoluto, diante de teus olhos, declaro aqui e agora: serei um artista de verdade...

O que? Não sabes o que é um artista de verdade?

Digo-lhe já, citando-lhe feito um poeta da vida:

O artista é aquele que escolheu como profissão e estilo de vida, o estar em contato constante com sua bem-aventurança. Por isso, aconteça o que acontecer, siga a sua bem-aventurança, e não deixe que ninguém o desvie dela. Há uma voz dentro de nós que diz sempre se estamos na direção certa ou fora dela. E se abandonarmos essa direção para ganhar dinheiro... Perdestes tua vida... Se estiveres no centro e não conseguires dinheiro.... Ainda terás a tua bem-aventurança...

O que?... Não murmures! Fale mais alto... Queres saber o que sinto ser sucesso?...

Pois bem, sem retrocesso , digo-lhe já e ainda em tom poético:

Sucesso é a compreensão e a dissolução dessa incompletude e sofrimento que não me deixam um só momento...
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Senhores: apesar de ainda poder ouvir ecos do constante monólogo de muitas mentes, chegamos ao final do monólogo presente!...

Por favor, por favor... Suplico: nada de palmas!

Acenando digo: tudo bem!... Se assim persistem...

Façam-no com uma só mão!

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PS - Não me é possível precisar até onde vai a minha paternidade literária nesta obra, pois muito do seu conteúdo, é uma mescla das idéias de tantos espiritualistas que fizeram eco, em meu interior, entre eles, Paul Brunton, Osho, Krishnamurti, Joseph Campebell, Tartang Tulku, Alan Moore e outros. De certa forma, acredito que todos os nossos pensamentos são também alheios, pois fazemos parte de uma imensa Rede Universal de idéias, sentimentos e, também, condicionamentos. Uma Rede é uma Rede, mesmo que seja vista em momentos e por ângulos diferentes. Sou uma parte desta Rede de idéias, esta Rede, que para mim, nos mantém distanciados do Imensurável. Acredito que juntos, compomos esta rede.

por Nelson J. Ramos de Oliveira

terça-feira, 28 de julho de 2009

ser e estar


"às vezes penso, às vezes sou".
(Paul Valéry)

Tenho observado com cautela o comportamento das pessoas e suas atitudes na vida em sociedade. E seja no ambiente corporativo, familiar, político, social, enfim, qualquer que seja o meio no qual estejam inseridas, preocupa-me a instabilidade, a ausência de propósitos, a fragilidade das personalidades, ante questões diversas que lhes são impostas.

As pessoas parecem tomadas por um senso de urgência, um imediatismo subserviente, através dos quais manifestam-se em defesa de interesses de curto prazo, pontuados isoladamente e localmente, como se estivessem desconectadas do organismo social.

Políticos fazem alianças historicamente incongruentes em troca de alguns minutos adicionais no horário eleitoral gratuito, independentemente da dissonância ideológica e pragmática futura em caso de êxito no pleito. Profissionais travam um verdadeiro jogo de xadrez em suas companhias prejudicando o colega da mesa ao lado em lances ardilosos engendrados nos corredores e nas pausas para o café, em busca de uma notoriedade que pretensamente lhes venha conferir uma maior remuneração. Amigos cultivados ao decorrer de anos capitulam nos momentos mais críticos, negligenciando ajuda e apoio. Familiares desagregam-se ao primeiro sinal de dificuldade econômica. Pais apregoam a ética a seus filhos, enquanto ultrapassam veículos pelo acostamento no final de semana, tendo-os por testemunhas.

Há uma inversão recorrente dos valores, da ética, da moral, do caráter. As pessoas deixam de ser o que sempre foram e passam a estar o que lhes convém.

Valores

Valores são definidos como normas, princípios, padrões socialmente aceitos. São-nos incutidos desde cedo, fruto do meio social, e quando chancelados pela conduta humana, considerados eticamente adequados. Somos orientados a aceitá-los, evitar questioná-los. E acabamos cerceados da possibilidade de exercer nossa criatividade, nossa imaginação, nosso livre arbítrio. Como diria Rousseau, "o homem nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros". Se tais parâmetros carecem de concordância, optamos não por alterá-los, mas por desrespeitá-los. Daí advém uma primeira cisão: regras são feitas para serem quebradas; contratos, para serem rompidos.

A moral de um lobo é comer carneiros, como a moral dos carneiros é comer a grama. Este instinto animal tem inconscientemente caracterizado o comportamento humano o qual tem denotado uma moral dupla: uma que prega mas não pratica, outra que pratica mas não prega.

Não são os princípios que dão grandeza ao homem. é o homem que dá grandeza aos princípios. Curiosamente é mais fácil lutar por princípios do que aplicá-los. Mas esta é uma luta que deve ser travada diariamente com paciência e sabedoria, ajustando a palavra à ação, a ação à palavra.

Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo. Por isso, esta luta trata-se de litigar paradigmas. Criar e difundir novos. Não esmorecer, mesmo sentindo a mente turva. Todos vivemos sob o mesmo céu, mas nem todos vemos o mesmo horizonte. E quando se tem o horizonte enevoado, é preciso olhar para trás para manter o rumo. A vida, disse Kierkegaard, só pode ser compreendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.

Caráter

Caráter é destino, disse Heráclito de éfeso. é aquilo que fazemos quando ninguém está olhando. é nossa particularidade, nossa maior intimidade, nosso segredo mais bem guardado. é nosso maior companheiro, nossa maior paixão - e, às vezes, nosso maior fantasma. é construído desde a mais tenra idade, simbolizando nossa maior herança - e nosso maior legado.

Um homem de caráter firme mostra igual semblante em face do bem ou do mal. Preocupa-se mais com seu caráter do que com sua reputação, pois sabe que seu caráter representa aquilo que ele é, enquanto sua reputação, apenas aquilo que os outros pensam. E sua firmeza de propósitos o faz com que opte pela singularidade de seu próprio julgamento.

O caráter testa-se em pequenas coisas. Num olhar, num gesto, numa palavra. Quando queremos saber de que lado sopra o vento atiramos ao ar não uma pedra, mas uma pluma. Há um provérbio dos índios norte-americanos que diz: "Dentro de mim há dois cachorros: um deles é cruel e mau, o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que alimento mais freqüentemente".

Acredito que as adversidades além de fortalecerem o caráter, revelam-no. Tornam-no mais tenaz, purificam-no.

Caráter é destino. E o destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha. Não é uma coisa que se espera, mas que se busca. O futuro de um homem está decididamente escrito em seu passado.

Mudança

Não existe nada permanente, exceto a mudança. Porém, mudar e mudar para melhor são coisas diferentes. As pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas. é um mecanismo legítimo e natural de defesa. Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças.

O dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma freqüência com que muda de mãos. Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o desmascara. Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um adversário. Infelizmente, esta observação, não raro, dá-se tardiamente, quando danos foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde.

Os homens são sempre sinceros. Mudam de sinceridade, nada mais. Somos o que fazemos e o que fazemos para mudar o que somos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos: nos outros apenas duramos.

Segundo William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa pode mudar de vida, mudando de atitude. Talvez por isso a famosa Prece da Serenidade seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para perceber a diferença entre as duas.

Tolerância

Cada vida são muitos dias, dias após dias. Caminhamos pela vida cruzando com ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas sempre encontrando nós mesmos. Na medida em que os anos passam tenho aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades. Aprendi a descansar em lugares tranqüilos e a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir. Aprendi que as pessoas, via de regra, não estão contra mim, mas a favor delas.

Por isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das pessoas. Atitudes insensatas não mais me surpreendem. Seria desejável que todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como deveriam ser feitas. Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem distribuída: todos garantem possuir o suficiente...

Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer. Nós não aprendemos nada com nossa experiência. Nós só aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Todos temos nossas fraquezas e necessidades, impostas ou auto-impostas. "Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam", disse François Rabelais.

Por tudo isso, é preciso tolerância. é preciso também flexibilidade. Mas é preciso fundamentalmente policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.


Perfeição



Seria utopia ter esperança na beleza? Um jardim sem espinhos em absoluta fruição? Uma comunicação livre de segundas intenções? Quando silêncio e virtude caracterizam o relacionamento entre duas pessoas, há harmonia. Quando silêncio e virtude vivem juntas em uma pessoa, há perfeição. Perfeição é uma possibilidade, ou não haveria uma palavra para ela.

Brahma Kumaris

A Contagem do Tempo Prejudica a Criatividade

Os povos primitivos não conheciam a necessidade de dividir o tempo em filigranas. Para os antigos não existiam minutos ou segundos. Artistas como Stevenson ou Gauguin fugiram da Europa e aportaram em ilhas onde não havia relógios. Nem o carteiro nem o telefone apoquentavam Platão. Virgílio nunca precisou de correr para apanhar um comboio. Descartes perdeu-se em pensamentos nos canais de Amsterdão. Hoje, porém, os nossos movimentos são regidos por frações exactas de tempo. Até mesmo a vigésima parte de um segundo começa a não mais ser irrelevante em certas áreas técnicas.

Paul Valéry, 'A Busca da Inteligência'

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Como se fosse pela Primeira Vez



*por Tom Coelho

“Se disser algo errado, poderá dizê-lo de novo.
Se escrever algo errado, poderá reescrevê-lo.
Se fizer algo errado, o erro ficará com você para sempre.”
(Choochat Watanaruangchai)

Lembro-me quando adolescente de acompanhar admirado pelos jornais que determinado espetáculo teatral completava cinco anos em cartaz. Então, questionava-me como poderiam aqueles atores literalmente suportar a mesma interpretação por duas ou três sessões seguidas, ao longo de três ou quatro dias consecutivos, ao cabo de tantos anos. Como tolerar os mesmos procedimentos de bastidores, a rotina de um mesmo script, piadas e cenas melancólicas igualmente dramatizadas, além de platéias similares, variando da animação à apatia nos mesmos momentos da apresentação?

Anos depois comecei a utilizar o transporte aéreo com certa regularidade. E aquela mesma pergunta tornou a me avizinhar o pensamento. Como podem pilotos, co-pilotos e equipe de comissários extraírem prazer de tarefas tão rotineiras? Da recepção dos passageiros à checagem das normas de segurança, passando pelo serviço de bordo, tudo transcorre religiosamente de igual maneira a cada decolagem e pouso...

A vida me reservou surpresas, mudando de forma radical o curso de minha história. De economista para publicitário, de empresário para consultor, de executivo para escritor. E palestrante. De repente, vi-me num palco, microfone na mão, olhos voltados para uma platéia, por vezes tão reduzida que torna possível saber o nome de cada um dos participantes, e por vezes tão ampla que os olhos não ousam alcançar o último dos presentes.

E, neste ofício, descobri que não há rotina, que inexiste a mera repetição. Cada apresentação é singular, porque os participantes são diferentes, porque o ambiente conspira de forma diversificada, porque meu estado de espírito é incomparável. Lembro-me de Saint-Exupéry: “Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas quando parte nunca vai só nem nos deixa a sós. Leva um pouco de nós, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada”.

Tenho amor verdadeiro pelo trabalho que desenvolvo. Tal qual o ator ama o palco e o piloto, sua aeronave. Cada peça apresentada é única; cada vôo, ímpar. Porque as platéias de todos nós são invariavelmente distintas.

O tempo passa e a idade aplaca-se sobre nós. Amadurecemos, mas também perdemos coisas. E só nos damos conta de nossas perdas depois que elas ocorreram. E todo final de ano colocamo-nos a refletir sobre o que fizemos, o que conquistamos, o que faremos e para onde iremos.

A rigor, podemos qualificar nossas vidas como absolutamente rotineiras. Uma repetição constante de tarefas e experiências em favor da sobrevivência, da subsistência. Apenas passamos. E podemos nos imaginar humanamente medíocres, vivendo vidas previsíveis e medianas. Mas também podemos tornar estes eventos únicos, posto que os são. Basta fazer tudo como se fosse pela primeira vez. E pela última vez.

A virada do ano, dizia Drummond, industrializa a esperança. Mas pouco adianta acreditar que este fato isoladamente será suficiente para fazer você mudar de vida. Fazemos isso a cada dia, a cada momento, a cada atitude.

Que assim seja com um abraço terno, com um beijo afetuoso, com um olhar reluzente desferido a quem se despede. No despertar para ir ao trabalho, numa reunião de negócios, no almoço com os amigos, no retorno ao lar. No dia de Natal, no Reveillon e em cada um de seus próximos 365 dias.

O HOMEM E OS VÉUS (LIVRO DE MIRDAD)

Também o Homem é, pois, uma triunidade sagrada: uma consciência, uma palavra e uma compreensão. Também o Homem é um criador, como o seu Deus. O seu eu é a sua criatura. Mas, por que o Homem não é equilibrado como seu Deus?

O Homem é um deus enfaixado. O Tempo é uma faixa. O Espaço é uma faixa. A carne é uma faixa e do mesmo modo são faixas todos os sentidos e as coisas por ele percebidas. A mãe sabe que as faixas não são a criança. A criança, porém, não sabe. O Homem ainda é muito consciente de suas faixas, que mudam de dia para dia e de idade para idade. Em vista dissso, a sua consciência está constantemente fluindo; e a palavra pela qual a consciência se expressa nunca é clara e com significado definido; e sua compreensão é nebulosa; e a sua vida está em desequilíbrio. É a confusão três vezes confusa.

E eis que o Homem brada por socorro. Seus gritos de angústia reverberam pelos séculos. O ar está pejado de seus gemidos. O mar está salgado com suas lágrimas. A terra está sulcada pelas suas sepulturas. Os céus estão ensurdecidos pelas suas preces. E tudo porque ele ainda não sabe o significado de seu EU que é, para ele, a faixa e a criança que nela está enfaixada.

Ao dizer eu, o Homem racha a Palavra em duas partes: suas faixas e a Divina Centelha Imortal. Dividirá o Homem aquilo que é indivisível? Deus o proíbe. Nenhum poder, nem mesmo o de Deus, poderá dividir o indivisível. É a imaturidade do Homem que o faz imaginar a divisão, e assim o Homem se põe em guerra contra o Ser-total, julgando-o inimigo do seu ser. Nessa guerra o Homem rasga suas carnes em tiras e derrama o seu sangue em torrentes, enquanto Deus, o Pai-Mãe, amorosamente observa, pois Ele sabe que o Homem está somente rasgando os seus pesados véus e derramando o amargo fel que o faz cego e não o deixa ver a sua unidade com o Uno.

É esse o destino do Homem - lutar, sangrar, desfalecer e afinal, despertar e estabelecer a divisão no eu, com sua própria carne, selando-a com o seu próprio sangue.

Fostes avisados para serdes prudente no uso do eu, pois enquanto com isso vos referirdes às faixas e não exclusivamente à criança; enquanto for para vós mais peneira do que individuação, de Jung, que busca deixar desenvolver todos os nossos aspectos (até mesmo os negativos), mas mantendo-os sob a liderança tranquila da consciência (o tal espírito da Compreensão, que também pode ser representado no pastor tocando flauta em cima do boi domado).', CAPTION, 'Saiba mais', STICKY);" onmouseout="nd();">cadinho, só estareis peneirando a vossa vaidade, para "Toda pessoa vem ao mundo com uma meta específica que deve alcançar em sua vida. Se o homem não terminar sua missão, voltará em outra encarnação. Como não sabemos exatamente qual a meta de cada um, nos guiamos pelo objetivo comum a todos, que é fazer o bem através da Torá (o velho testamento - pentateuco) e Mitsvôt (Plural de Mitsvá: Boas ações, fazer o bem). Esta é a missão que cabe a todos os Iehudim (Judeus), e devemos nos esforçar ao máximo para cumpri-la da melhor forma."
(Rabino Raphael Shammah; Pensamentos)');" onmouseout="nd();">colherdes a Morte
com toda a sua ninhada de dores e agonias.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

IRREAL

Ela era tão linda que cegava meus olhos. E, fiandeira, recriava tudo que eu via, ou vivia. O riso de feitiço, capaz de mudar todas as rotas e a boca, altar exato, os lábios como leito, onde deitava e alcançava todos os gozos, embarcadouro de todos os desatinos. O beijo, ainda lembro, tinha aromas.

O cabelo longo, a cobrir o dorso nu, feito vestido de trigo, a erosão de milagre a esculpir o corpo - onde nada exagera, ou exclui- , milenarmente, as coxas fartas e precisas, a anca a enlouquecer os homens, o braço a se contrair e dançar enquanto se tocava, úmida e fêmea, a se prometer.

As marcas do sol, a delimitar os meridianos de prazeres. A vida, que se enfeitava toda de flores, só ao rumor de seus passos. O vaso, como liame da casa. A santa, contida em vestidos sacros, a devassa, de gozos insaciados, liberta em nudez e posse irrestrita, a fizeram a dançarina de meu coração...

Ela era linda, linda, e por ela escrevi tratados, aprendi idiomas e novas línguas, dormi ao relento, bebi cicuta e álcool, dançei sobre o perigo, invadi o ocidente e fui hereje e santo. Por ela me fiz jardineiro, só para lhe cuidar...

Ela era linda, linda, linda. E me inventava. Mas eu nunca a conheci...

ENVIADO POR UM CABRA SAFADO DE MACEIÓ..UM ESCRIBA CHAPA BRANCA..KKKKKKKKK....BRINCADEIRINHA

A FALTA QUE A MULHER FAZ

Por acaso sua mulher viaja para congressos, cursos, ou você, como um terço de nós homens, já é separado? Então sabe do que vou falar. Você já se viu na prateleira do supermercado, frente a uma dúzia de frascos coloridos tentando diferenciar desinfetante, detergente e alvejante? Especialmente se sua mãe lavava tudo com sabão em barra? E da marca Campeiro, o melhor?


Ou diante do dilema socrático de tentar adivinhar como ficará o cheiro de sua casa se preferir o eucalipto a floral? Ou qual deles estraga menos a pele da mão, conforme recomendou sua diarista? Você sabe qual marca de sabão em pó tem o aditivo mais aditivo, que lava mais branco, conferindo à roupa de seus filhos um brilho de fazer inveja a qualquer outra mãe? Pois tenha certeza que é mais fácil tentar decifrar o enigma da Esfinge do que resolver essas charadas. Ou então fazer como eu que sou salvo pelas orientações de Ana Luísa, minha filha de sete anos.: - “pega o do ursinho pai!”
Aliás, ela gosta tanto de falar que não pude deixar de rir quando, ao fazermos feira, ontem, ela me disse que sua palavra predileta é etecetera!. Só podia.

Mas, a menos que você tenha sido escoteiro ou aprendido durante seus anos como marinheiro, a dar nós, está ciente das dificuldades de fazer um coque no cabelo comprido de sua filha, para que ela vá à aula de ballet? Você conhece exatamente a diferença entre scarpin e uma alegoria para a festa do bumba-meu-boi? Ou por que ela prefere tiara a pompom (seja lá o que isso for) e outros enfeites mais, se antes era tudo maria-chiquinha? E que piranha não é exatamente aquilo que você estava acostumado, mas algo para prender o cabelo?

Você já passou a vergonha de chegar em casa com dez frascos de amaciante de roupa, que comprou na promoção, achando que fez um grande negócio, e a cozinheira te olhou com ar de desdém duvidando seriamente de sua capacidade mental, ao lhe explicar, tão calmamente quanto possível, que ela era cozinheira, logo, o amaciante era para carne? Ora, diabos, como ninguém lhe explicou que havia um produto especifico só para amaciar carne se no seu reino de homem todo mundo só fala das carnes durinhas???

Tal como um general diante das opções de uma batalha, você já teve que escolher se o que sobrou do almoço deve ser guardado no forno, no freezer, na geladeira, antes ou depois de esfriar, ou se é melhor jogar tudo fora e dizer que uns amigos apareceram de repente e comeram tudo, sem arriscar outra sessão de avaliação do seu QI? E por que raios tem tanta opção na máquina de lavar e não só dois indicadores: lavando e lavado?

Viver, como dizia Guimarães Rosa, é muito perigoso. O lar é um terreno movediço, onde a cada passo afundamos em um emaranhado de novos significados e, no qual, se fala um estranho dialeto de usos e costumes, só acessível aos iniciados.

Sei que existem inúmeras outras coisas que fazem das mulheres nossa certidão irreversível, e sei que, uma ou outra feminista, com menos senso de humor, pode julgar que as estou diminuindo, mas a verdade é que basta tentarmos sobreviver sozinhos, em casa, para que percebamos a falta que a mulher faz...
PS: aos amigos: no próximo dia 13 estarei fazendo minha qualificação do doutorado, então, se não postar ou não retribuir as visitas foi por impossibilidade. Volto depois...vivo...espero...
EMAIL ENVIADO PELO MEU QUERIDO AMIGO..BASTIÃO LÁ DE CAMPINA GRANDE...OXENTEEEEE

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tigela de Madeira

Um senhor de idade foi morar com seu filho, nora e o netinho de quatro anos de idade.

As mãos do velho eram trêmulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes.

A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão falha do avô o atrapalhavam no momento da refeição. Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão. Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha da mesa. O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.

"Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai", disse o filho.

"Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão."

Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições à mesa, com satisfação.

Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira. Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair ao chão.

O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio.

Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira. Ele perguntou delicadamente à criança:

"O que você está fazendo?"

O menino respondeu docemente:

"Oh, estou fazendo uma tigela para você e mamãe comerem, quando eu crescer."

O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho.

Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos. Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito.

Naquela noite, o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família. Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as refeições com a família. E, por alguma razão, o marido e a esposa não se importavam mais quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.

De uma forma positiva, aprendi que não importa o que aconteça, ou quão ruim pareça o dia de hoje. A vida continua, e amanhã será melhor.

Aprendi que se pode conhecer bem uma pessoa, pela forma como ela lida com três coisas: um dia chuvoso, uma bagagem perdida e os fios das luzes de uma árvore de natal que se embaraçaram.

Aprendi que não importa o tipo de relacionamento que tenha com seus pais, você sentirá falta deles quando partirem.

Aprendi que "saber ganhar" a vida não é a mesma coisa que "saber viver".

Aprendi que a vida às vezes nos dá uma segunda chance e que viver não é só receber, mas também dar.

Aprendi que se você procurar a felicidade, vai se iludir. Mas, se focalizar a atenção na família, nos amigos, nas necessidades dos outros, no trabalho e procurar fazer o melhor, a felicidade vai encontrá-lo.

Aprendi que sempre que decido algo com o coração aberto, geralmente acerto. E que quando sinto dores, não preciso ser uma dor para outros.

Aprendi que diariamente preciso alcançar e tocar alguém. As pessoas gostam de um toque humano, receber um abraço afetuoso, ou simplesmente um tapinha amigável nas costas.

Aprendi que ainda tenho muito que aprender.

E aprendi que as pessoas se esquecerão do que você disse, esquecerão o que você fez, mas nunca esquecerão como você as tratou.

Mundo Perfeito


*

"Busque a alta qualidade, não a perfeição."
(H. Jackson Brown Jr.)

Você é encarregado de preparar um determinado projeto. Em verdade, você mesmo candidatou-se a esta tarefa, pois conhece o assunto como poucos e está certo de que poderá contribuir com sua equipe. Assim, bastariam algumas horas de transpiração diante da tela do computador para produzir uma primeira versão do documento que seria apresentada aos seus pares propiciando debates e a elaboração de uma versão posterior, mais densa e melhor estruturada.

Todavia, seu nível pessoal de exigência impede-o de redigir uma proposta sem antes promover todo um trabalho de pesquisa para embasar sua tese. Mas pesquisa demanda tempo e o tempo é a matéria-prima mais escassa do mundo moderno. Passa-se uma semana, duas, um mês. O projeto não sai de seu pensamento e não vai para o papel. Você se angustia, perde o prazo e a credibilidade com seus colegas. E consigo mesmo.

O exemplo acima pode representar um projeto profissional. Pode também ilustrar um trabalho acadêmico ou mesmo uma ação filantrópica. O fato é que em qualquer um dos casos o desejo de fazer o ótimo dilacerou a possibilidade de fazer o bom. E, no final das contas, nada foi concretizado, o que significa um resultado péssimo.

Convido você a fazer igual analogia com outros sonhos que já visitaram suas noites em vigília. Livros que não foram escritos, músicas que não foram compostas, poesias que não foram declamadas. Uma intervenção necessária durante uma reunião que foi contida por falta de ousadia. Uma declaração de amor reprimida porque você ainda não se sentia preparado.

Temos o mau hábito de esperar pelo mundo perfeito para tomar decisões. É como se decidíssemos cruzar a pé uma movimentada auto-estrada apenas quando todos os veículos parassem para permitir nossa passagem, sem a existência de qualquer sinalização que os obrigasse a tal ação.

Enquanto buscamos e ansiamos por este mundo perfeito, outras pessoas fazem o que é possível, com os recursos de que dispõem, dentro do tempo que lhes é concedido. E não raro acabam sendo bem-sucedidas. Então, ao observarmos o conteúdo de suas produções, colocamo-nos imediatamente a criticá-las, certos de que poderíamos ter alcançado um resultado muito mais satisfatório. Nós pensamos; elas agiram.

Observe como muito pode ser feito usando de pouco tempo e de muita simplicidade. Muitas vezes basta um telefonema de alguns minutos para dirimir uma dúvida, prestar um esclarecimento, obter uma dilação de prazo. De igual maneira, um e-mail redigido em uma fração de segundos pode aquietar o espírito de seu interlocutor e sepultar o risco de um desentendimento. Agradecimentos, por sua vez, devem ser prestados o quanto antes, ou tornam-se inócuos e desprovidos de sensibilidade.

Um livro pode ser escrito de uma só sentada ou capítulo a capítulo, dia após dia. Uma música pode ser composta num guardanapo de papel na mesa de um bar ou nas bordas de uma folha de jornal que repousa em seu colo dentro de um ônibus. Um poema pode ser oferecido em meio a um jantar ou dentro de um elevador que se desloca do terceiro piso para o subsolo.

O tempo certo para agir é agora. Não de qualquer jeito, não com mediocridade, mas com o máximo empenho possível. Amanhã, como diriam os espanhóis, é sempre o dia mais ocupado da semana.

Reimagine!


*por Tom Coelho

"Se você não gosta de mudança,
vai gostar ainda menos de irrelevância."
(General Eric Shinseki)

Você pode ler as 352 páginas de “Reimagine! Excelência nos negócios numa era de desordem” (Futura, 2004) ou assistir aos 77 minutos do filme com igual título, distribuído no Brasil pela Siamar, para entender o porquê de Tom Peters ser considerado um dos nomes mais influentes da administração moderna.

O fato é que Peters aborda temas que por vezes não chegam a ser inovadores, mas sua forma de apresentá-los é única e surpreendente. Ilustra, exemplifica e utiliza cases de empresas para demonstrar que é possível fazer diferente, fazer a diferença.

Algumas sugestões que podem ser extraídas de sua obra acompanhadas de breves reflexões pessoais:

1. Abrace uma grande visão. Você ou sua empresa alcançarão o grau de crescimento e de exposição que postularem em seus planos. Pense pequeno e pisará a grama, pense médio e caminhará por entre arbustos, pense grande e habitará uma floresta. Se desejar ser a maior empresa de seu setor parecer utópico, experimente imaginar ser a melhor. Isso é sempre possível. E compartilhe esta visão.

2. Contrate grandes pessoas. Num mundo de produtos comoditizados, são as pessoas o grande diferencial. Aprenda a selecionar gente com vontade de trabalhar, com eletricidade no corpo e brilho nos olhos. Gente com atitude, mais do que habilidades, que podem ser ensinadas a qualquer tempo. Gente melhor do que você! E contrate devagar, buscando qualidade a partir da quantidade. Mas demita rápido, tão logo seja preciso.

3. Promova o envolvimento. Faça as pessoas trabalharem com você e não para você. Elas devem se sentir não apenas parte do processo, mas protagonistas das soluções. O envolver é entrelaçar, compartilhar e comprometer-se. Empenho que decorre do entusiasmo, determinado menos por questões financeiras e mais pelo orgulho de pertencer e pelo respeito aos propósitos da companhia e à liderança.

4. Treine o tempo todo. Prepare sua equipe treinando-os continuamente. A tarefa é desenvolver competências técnicas, comportamentais, relacionais e até valorativas. Esqueça a mensuração baseada em horas de treinamento anual por pessoa. Isso é balela estatística. A verdadeira régua está na qualidade do treinamento. Ajude-os a conhecer tudo sobre seus produtos e serviços, mas contribua também para que se tornem também pessoas melhores e não somente profissionais melhores.

5. Comunique constantemente. Mantenha a todos informados: colaboradores, clientes, acionistas. Faça a informação – de qualidade – circular. Use da transparência, evite eufemismos, diga a verdade. A mentira tem pernas curtas, vida longa e seu legado é devastador. Compartilhar resultados favoráveis é prazeroso e fácil, mas poucos fazem o mesmo com as más notícias, perdendo a oportunidade de captar grandes aliados para superá-las.

6. Desenvolva idéias e soluções inovadoras. Pense fora da caixa, do plano bidimensional. Faça propostas absurdas ao mesmo tempo em que reflete sobre o óbvio – assim surgiu a jornada flexível de trabalho. Atente para as perguntas e formule outras perguntas quando tiver obtido uma provável resposta – assim nasceu o carro bicombustível. Fique de olho nas conseqüências, inclusive aquelas que parecerem totalmente desfavoráveis – assim foi criado o medicamento para disfunção erétil. Hospitais não precisam ser tristes, aulas não carecem de ser chatas, políticos não necessitam ser corruptos.

7. Design é fundamental. Em termos de design, o que menos conta é a beleza, ainda que ela possa e deva ser contemplada. O que está em jogo é a funcionalidade, a praticidade, o tipo de material empregado. Falamos de leveza, de manuseio, de alternativas com custo inferior – e valor agregado superior. Continuo sem entender por que aqueles sachês de mostarda, maionese e ketchup são tão irritantemente difíceis de serem abertos. Ou por que as embalagens de sanduíches não são formatadas para funcionarem como guardanapo, evitando o contato das mãos com o alimento. Alguém se habilita?

8. Tecnologia para facilitar. Tecnologia que se propõe exclusivamente a transparecer uma imagem futurista apenas intimida e afasta clientes, além do risco de representar um caminhão de dinheiro jogado no lixo. O que se espera são instrumentos para agilizar processos, promover a integração, ampliar a comunicação, reduzir custos diretos ou indiretos. A mudança tecnológica deve ser evolucionária, e não revolucionária. Pequenos avanços hoje, grandes inovações amanhã.

9. Ofereça um atendimento extraordinário. Duvido que ainda haja neste mundo uma pessoa qualquer que não tenha sido flagrantemente destratada, negligenciada e até desrespeitada enquanto consumidora. São profissionais de telemarketing ativo que invadem nossa privacidade na calada da noite, muitas vezes para oferecer um produto do qual já somos seus usuários. São profissionais de telemarketing passivo, dos ordinários serviços de atendimento ao cliente, desprovidos de treinamento, autonomia e bom senso, que raramente resolvem uma demanda com iniciativa, interesse e rapidez. São profissionais em pontos de venda, que não procuram identificar nossas necessidades, mas apenas sugerir o que lhes convém, e raramente solícitos por ocasião de uma troca ou substituição. Estou farto deste desatendimento! Gente que não entende que venda se processa antes, durante e depois da compra. Gente que não aprende que vender e servir andam de mãos dadas. Gente que ainda não descobriu que a única coisa que cativa um cliente é uma experiência de atendimento inesquecível e extraordinária. E que isso é fácil de proporcionar: basta dar atenção.

10. Divirta-se! Quer colher comprometimento dos funcionários, fidelidade dos clientes e retorno sobre o investimento? Construa um ambiente que seja prazeroso para trabalhar e agradável para visitar. Um local onde quem trabalha aguarde ansiosamente pela segunda-feira para iniciar uma nova e produtiva semana. Um espaço onde quem consome sinta-se estimulado a permanecer por horas desfrutando de sua atmosfera e infra-estrutura. Livrarias com confortáveis poltronas onde se pode degustar a leitura de qualquer obra sem restrições, por exemplo, já aprenderam esta lição.

Reflita sobre estas propostas, celebre as conquistas e gerencie com paixão. Tenha menos foco em coisas, mais cuidado com pessoas. Reinvente. E reimagine!

domingo, 19 de julho de 2009

Há mais luz por aqui


Alguém viu Nasrudin procurando alguma coisa no chão.

"O que é que você perdeu, Mullá?", perguntou-lhe

"Minha chave", respondeu o Mullá.

Então, os dois se ajoelharam para procurá-la.

Um pouco depois, o sujeito perguntou:


"Onde foi exatamente que você perdeu esta chave?"

"Na minha casa."

"Então por que você está procurando por aqui?"

"Porque aqui tem mais luz."

Contos do mestre Sufi Nasrudin

Esvaziando e limpando a taça


Jiddu Krishnamurti

Ouvinte: O que há para preencher a mente, depois de nos esvaziarmos do “eu”?

K: Como posso lhe responder? Primeiro, trate de “esvaziar” a mente e, depois, descobrirá o que há. Não só você, pessoalmente, senhor: todos nós. Esta é uma questão de interesse geral. Temos muito medo do vazio e desejamos preenche-lo. Temos medo de nossa esgotante solidão, e procuramos fugir dela. É o fugir que gera o medo; mas o fugir nos põe ativos e, por isso, quando fugimos, pensamos que estamos sendo muito positivos. Quando você tiver compreendido essa solidão, depois de atravessá-la e ultrapassá-la, descobrirá por si mesmo o que quando o “eu” já não existe. Mas, como tudo mais, senhor, você deve começar pelo vazio. A taça só é útil quando vazia. Mas, para compreender esse vazio, é preciso atravessá-lo num clarão, por assim dizer, e lançar a base correta. Então, você saberá; nunca mais perguntará o que além daquele vazio.

Ouvinte: Então, certamente, o significado da vida é este: a taça deve ser útil.

K: A taça só pode ser útil quando vazia. Então, você pode enchê-la com aquilo que você gosta. Mas, se a sua taça já está cheia – cheia de sofrimento, aflição, conflito – que utilidade ela tem? Senhor, que utilidade tem a sua vida, tal como é: competição, guerras, conflitos internacionais, divisões entre Oriente e Ocidente, entre esta e aquela religião? Que utilidade tem isso?

Ouvinte: Você não me entendeu bem. Ao dizer que a “taça deve ser útil” eu quis dizer que a finalidade da vida é cumprir a vontade de Deus.

K: Todo político, todo negociante, todo general preparador de guerras, fala sobre a “vontade de Deus”. O comunista também fala da “vontade de Deus”, mas no seu caso se trata da “vontade do Estado”, etc. etc. O que é a “vontade de Deus”? Você só pode averiguar isso quando não mais estiver buscando, não mais estiver pedindo, quando não mais pertencer a nenhum grupo separado, quando não mais tiver medo, quando se achar num estado de completa incerteza – que não significa demência. Nesse estado, o pensamento já não busca um porto seguro. Então, talvez aquilo que se pode chamar “Deus” – ou outro nome qualquer – começará a atuar.

14 de junho de 1962 – O homem e seus desejos em conflito - ICK

o Jardim Avesso

Namorados, enamorados, namorai, enamorai-vos, que ainda é tempo. Ainda que mudem os planetas e queimem as florestas, enamorai-vos. Que o tempo, como diz o poeta, é quando. E o coração não conhece, sabemos todos, outro remédio que não morrer de amores.


É preciso, mais que nunca, remar contra a maré, feito um insensato das convenções e regras. Que a maré, dizem os costumes, é contra o intenso. È rio sem força, talvegue de palmo, é sem estilo e sem destino. Que as relações são todas de balaio raso, de feitio sem enfeite, sem adereços, sem alegorias ou danças imaginárias.

Homens e mulheres olham-se apenas ao redor da cintura e adjacências como se vida tivesse currículo de posse construído na quantidade e não nos imponderáveis desatinos dos encontros improváveis.
Devemos namorar, não os namoros seriais, mortais na banalidade, frágeis na sustentação da vida e de suas inevitáveis dores, limitados por todos os pontos cardeais, tão mortais que sequer merecem um canto da memória. Tão comuns que apenas não passam de amores canibais a devorar a santidade do corpo feminino e a biografia dos homens.

Devemos amar com que ora, atendido pelos deuses, diante daquela mulher improvável, de tão linda. Tão incerta quanto a luz de uma estrela que se desfez há milhões de anos, tão real quanto o milagre de sua boca, dizendo seu nome, se oferecendo como um beijo.

E quando ela dançar nua, dentro de seu vestido, e os cabelos oscilarem como um feitiço ancestral, quando suas orelhas se enfeitarem de brincos grandes, e as chamas devorarem as roupas de suas vestes, quando tiverem lido todas as palavras de todos os livros, de todos os tempos e tiverem aprendido a dizer te amo em todas as línguas e dialetos, enfim, se pertençam, inevitáveis que são.

E, aí sim, o corpo em comunhão e febre, fará de cada um a redenção do outro, irrepetível, atemporal, ilimitado e inesquecível. Porque é preciso amar, ao menos uma vez, um homem ou uma mulher, como quem não sabe dizer adeus. Como quem nunca vai poder dizer adeus. Ainda que a vida, ou os erros, os separe.

É preciso amar como quem tece o fio da vida na existência do outro, no abraço de seu sono, com quem ao dormir se dilui e se infiltra nos poros da pele do parceiro e se tatua no seu corpo inteiro para a distância do momento seguinte, porque sabe que para amar sequer é preciso estar junto. É necessário, apenas, permanecer, porque nada mais irá bastar ou satisfazer.


Então, deixe-se surpreender, quando ele, ou ela, vier. E, embora erremos e amemos enganos, que nem valem a inocência dos apaixonados e o que damos, e nem sabem receber, devemos amar certos amores como quem faz uma leira, ceva e fertiliza a terra onde o outro pisa e a cuida diariamente, com flores e um jeito de olhar que só você terá, como só pode fazer um jardineiro fiel. A amar, e se deliciar de amar, o seu jardim do avesso.

Aprender a Ver

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam. Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir. — Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão. O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o facto pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa «objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.

Friedrich Nietzsche

Estranho Portal liga Sol à Terra



portal magnetico

Portais magnéticos abrem-se aproximadamente a cada oito minutos para ligar o nosso planeta com o Sol.
Quando o portal se abre, cargas de partículas altamente energéticas podem viajar 150 milhões de km através da passagem, de acordo com cientistas espaciais.

O fenómeno recebeu o nome “evento de transferência de fluxo” ou FTE (de flux transfer event, em inglês).
Ele é real e ocorre com o dobro da frequência que qualquer pessoa poderia imaginar. “Dez anos atrás eu tinha certeza que eles não existiam, mas agora a evidência é irrefutável”, disse o astrofísico americano David Sibeck.


Explosões dinâmicas


Os pesquisadores já sabiam que a Terra e o Sol deveriam estar ligados.

Por exemplo, partículas solares incidem na Terra constantemente por causa do vento solar e frequentemente seguem as linhas do campo magnético que ligam a atmosfera do Sol com a terra firme.

As linhas do campo permitem que as partículas penetrem a magneto-esfera da Terra; o escudo magnético que envolve o nosso planeta.

Uma das hipóteses sobre a formação do evento é que o lado da Terra que está de frente para o Sol pressiona o campo magnético da Terra contra o campo magnético do Sol.

E a cada oito minutos os dois campos ligam-se brevemente, formando um portal através do qual as partículas podem fluir.

O portal toma a forma de um cilindro magnético com a largura da Terra.

Mais de um FTE podem abrir-se num mesmo momento e eles ficam abertos entre 15 e 20 minutos.

Algumas medições foram feitas com sondas da Agência Espacial Europeia e da NASA que voaram através destes cilindros e nas suas margens.

Apesar das sondas terem conseguido medir a largura de um FTE o seu comprimento ainda é incerto.

Mas uma medida preliminar concluiu que teria mais de 5 raios da Terra (um raio da Terra tem cerca de 6.400 km).

O astrofísico Jimmy Raeder, da Universidade de New Hampshire, nos EUA, criou uma simulação computadorizada com estes dados e concluiu que os portais FTE cilíndricos tendem a formar-se sobre o equador até que em dezembro eles deslizam sobre o Pólo Norte. Em julho eles deslizariam sobre o Pólo Sul.

Parece ainda que existem fluxos activos e passivos o que faz com que ocorram com o dobro da frequência que se acreditava antes.

Os fluxos activos permitem que as partículas passem com facilidade, formando dutos de energia importantes para a magneto-esfera da Terra e os cilindros passivos ofereceriam mais resistência para as partículas que transitam.

Os cientistas ainda estão empenhados em descobrir porquê os portais se abrem a cada oito minutos e como os campos magnéticos no seu interior se torcem e enrolam
.

fonte: Live science

E tua alma? Tem peso do quê?






Tem o peso das palavras não ditas e das gritadas. Tem o peso da vida nos ombros. Das escolhas certas e mais ainda de todas as erradas. Pesa os amores bem vividos, os amores mal resolvidos e principalmente os amores inférteis.

Me pesa tanto, que chegam a curvar os ombros, as obrigações mascaradas como favores, a falta de delicadeza e a estranheza nesse mundo. Aquela sensação de não fazer parte, mesmo forçado a estar no meio. A solidão que ninguém vê...

As lágrimas de alegria, as poucas de dores físicas e as tantas de dores mais doloridas. Mas me pesa mais as lágrimas guardadas. A fome que não se mata com comida e o buraco que ninguém tampa.

Os pontos finais, as vírgulas que trancam na garganta, as reticências de querer dizer algo mais... O peso da incompreensão das palavras, da necessidade de ter sempre que compreender além das palavras... O que quero dizer e não posso. O que não posso dizer e digo.

A incerteza de se ter um porto, de se ter o lugar, de se ter... Algumas das certezas dessa vida, àquelas que fincam e que não se pode fugir. O que pesa alma sempre nos é meio cinza, meio tempestuoso... As cores, as felicidades, as alegrias essas aliviam a alma do seu peso.

O vazio, este tem um peso absurdo, do tipo que só quem tem consegue medir, compreender, mas nem por isso suportar. A ausência dos seus, a saudade que não pode ser morta.

Tem o peso daquelas lembranças que a gente vê em preto e branco, sonhando ter colorida, das esperanças que se esvaem. Hoje tem o peso de não se ver a luz no fim do tão falado túnel...


EMAIL ENVIADO POR LAIIR

quinta-feira, 16 de julho de 2009

a arte da sublimação

No pequeno recôndito da sala, o maestro delineia e imagina em sua mente e “alma” sua próxima composição. Neste exemplo de fértil criação, o artista compõe com o véu e linguagem extraídas de conhecimentos cognitivos de música, e de sua relação com sua alma e seus sentimentos, o extrato de algo que se transformará em algo “semi-palpável” de rara beleza e abstração, que entrará em contato com outras subjetividades de outras pessoas, liberando emoções, sensações e sentimentos únicos compartilhados.

Sublimar é uma Arte? Ou fazer “Arte” é sublimar?

Primeiro devemos nos perguntar o que vem a ser Sublimação e o que se desenha a partir da palavra Arte.

“Arte (Latim ARS, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores. A arte está por todos os cantos, pois não se restringe apenas em uma escultura ou pintura, mas também em música, cinema e dança. O ser que faz arte é definido como o artista. O artista faz arte segundo seus sentimentos, suas vontades, seu conhecimento, suas idéias, sua criatividade e sua imaginação, o que deixa claro que cada obra de arte é uma forma de interpretação da vida.” (Fonte : Wikipedia)

Com o advento da Psicanálise na Cultura, a "Arte" sempre é citada como algo simbólico da Sublimação. Às vezes é até confundida com a própria Sublimação.

Freud criou a noção de Sublimação a partir da indicativa de que para existir a civilização houve a "necessidade" de sublimar os instintos.
Segundo Teresa Pinheiro, em seu artigo sobre a “Sublimação e idealização e a pós-modernidade” (http://www.geocities.com/hotsprings/villa/3170/TeresaPinheiro.htm), Birman diz que a sublimação na obra freudiana tem o "estatuto de passagem" funcionando sempre como argumento para demonstração de um outro conceito. Ou seja, Freud jamais construiu uma teoria da sublimação".
Vamos nos ater aqui nesta exposição com ênfase à questão da sublimação da pulsão sexual. A definição de sublimação dada por Freud em 1914 é a seguinte: "A sublimação é um processo que concerne a libido de objeto e consiste no fato de que a pulsão se dirige para um outro objetivo, distante da satisfação sexual; o que é acentuado aqui é o desvio que distancia do sexual".

Freud, usa a Sublimação para designar a mudança de um estado psíquico para outro através de uma “transformação” de uma certa pulsão, a pulsão sexual. A sublimação é algo simbólico de “quando se consegue intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual”. Segundo ele, tais satisfações parecem mais refinadas e mais altas. Como diz ele em seu livro “O Mal Estar da Civilização”, que, a intensidade da sublimação “se revela muito tênue quando comparada com a que se origina da satisfação de impulsos instintivos grosseiros e primários; ela não convulsiona o nosso ser físico”.

Diz ainda : “A sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do desenvolvimento cultural; é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na vida civilizada. Essas pessoas se tornam independentes da aquiescência de seu objeto, desviando-se de seus objetivos sexuais e transformando o instinto num impulso com uma finalidade inibida.”

Freud, em seus raros momentos de real dúvida, fala sobre a sublimação e a pulsão sexual: “Às vezes, somos levados a pensar que não se trata apenas da pressão da civilização, mas de algo da natureza da própria função (sexual) que nos nega satisfação completa e nos incita a outros caminhos. Isso pode estar errado; é difícil decidir.”

Acredito que a atividade artística é aquela em que há um acesso controlado de conteúdos do próprio inconsciente, inconscientemente, havendo quase que uma passagem sublime de uma instância à outra.

Para Jung, que foi quase ao mesmo tempo grande afeto e desafeto de Freud ao longo de sua vida, ele não se harmoniza em relação à idéia de Freud da sublimação. No seu livro “A Natureza da Psique”, mais precisamente no capítulo “Psicologia Analítica e Cosmovisão”, Jung fala de sonhos, repressão, arte, e sintomas: “Em si, o sonho é uma função normal que pode ser perturbada por represamentos, como qualquer outra função. A teoria freudiana dos sonhos considera, e até mesmo explica, os sonhos exclusivamente sob este ângulo, como se nada mais fossem do que meros sintomas. Outros campos da atividade do espírito, como sabemos, são tratados da mesma maneira pela psicanálise — por exemplo, as obras-de-arte. Mas é aqui onde penosamente se manifesta a inconsistência desta teoria, pois uma obra-de-arte não é um sintoma, mas uma genuína criação. Uma atividade criativa só pode ser entendida a partir de si mesma. Mas se ela é considerada como um mal-entendido patológico, que é também explicado como uma neurose, a tentativa de explicação em breve assume um aspecto lamentavelmente curioso.”


Em relação à beleza abstrata da arte e de outras tantas atividades humanas, Jung remete tudo isso à uma força criadora e propulsionadora existente em todos nós. Diz ele: “Se atribuímos uma poesia de Goethe a seu complexo materno, se procuramos explicar Napoleão como um caso de protesto masculino e um São Francisco de Assis como um caso de repressão sexual, apodera-se de nós um profundo sentimento de insatisfação. Esta explicação é insuficiente, não faz justiça à realidade e ao significado das coisas. O que são, afinal, a beleza, a grandeza e a santidade? São realidades de suma importância vital, sem as quais a existência humana seria tremendamente estúpida. Qual é a resposta correta para o problema de tantos sofrimentos e conflitos inauditos? A verdadeira resposta deveria tocar uma corda que nos lembrasse pelo menos a grandeza do sofrimento.” Ainda completa: “Presenciei muitos casos em que fantasias sexuais anormais desapareceram súbita e completamente no momento em que uma idéia nova ou um conteúdo novo se tornaram conscientes, ou em que uma enxaqueca cessou inteiramente de repente, assim que o enfermo se tornou consciente de um poema inconsciente.”

Logo depois, ele fala algo que acho de maior importância:

“Da mesma forma que a sexualidade pode exprimir-se impropriamente através de fantasias, assim também uma fantasia criadora pode exprimir-se impropriamente através da sexualidade.”

Podem ser considerados atos sublimados, além da criação artística propriamente dita, o trabalho e até o lazer, por que não? O prazer obtido no lazer pode ser considerado um prazer substituto à um prazer sexual ? Acho que pode ser considerado um prazer de “ordens” ou de qualidades diferentes, assim como é prazeroso e diferente se apreciar um cheiro de um incenso, ou se comer um chocolate ao invés de uma pizza, se ouvir rock ou um bom jazz. Tudo vira uma questão de qualidades de ordens diferentes.

O ser humano é dotado de uma série de potencialidades que se desdobram da possibilidade e exclusividade única e inequívoca de se obter prazer via sexualidade. É verdade que o conceito de sexualidade para Freud tem uma conotação ampla, e não podemos nos enganar ou fantasiar sobre isso de maneira inapropriada. O próprio ato de comer pode ser considerado algo vinculado à sexualidade. Mas devemos refletir sobre o assunto e nos perguntar se não é algo profundo pensar se somos somente obra de um instinto de vida interessado apenas em nos propagar, nos remetendo sempre à necessidade sexual, como se qualquer outro prazer ou ato fosse apenas uma benesse disponível “substitutiva” para mitigar o instinto e as pulsões sexuais sempre presentes.

Segundo o psicanalista Luís Fernando Scozzafave (blog Sinapse Oculta) “A Pulsão sexual não apenas vai ser dirigida para a reprodução e para o ato sexual em si. Há a dinâmica de: 1- Encontrar o “alvo” , 2- Descarregar a energia (Libido) 3- Repouso”.
Então, essa libido ora descarregada, ora não, encontra modos de se veicular através de outros meios.

É certo que muitas de nossas ações são investidas de libido, de um certo teor vindo da sexualidade. É tudo de alguma forma erótico, um instinto de Eros. A arte é de alguma forma erótica também.

No tocante à fantasia criadora dita por Jung, quando exprimida através da arte, pode assumir uma variada gama de possibilidades. Aí vem uma pergunta difícil: O que pode ser considerado Arte?

O móvel rústico de seu quarto pode ser uma obra de arte. A invenção da roda pode ser arte. Até mesmo o modo que o vendedor de biju no trânsito arranjou para atrair seu cliente pode também pode ser arte. Isso é subjetivo. Bocato, um grande trombonista brasileiro disse uma vez de forma humilde: “Um dia espero estar fazendo arte”.

A Arte não se restringe na sua “arte final”, no seu “objeto” idealizado final. Vejamos por exemplo um belo edifício moderno projetado por um arquiteto junto ao seu engenheiro responsável. A capacidade do engenheiro fazer complexos cálculos com parâmetros extremamente racionais pode ser a fundação para uma obra de arte. Energia sublimada pelo arquiteto em sua criação, e o prédio, em seu acabamento, lapidado pela tinta misturada pelo auxiliar de manutenção, é tudo um processo. A arte ou atividade dita “sublimada” é um processo em que toda a civilização e cultura está envolvida.

Apesar disso, muito se discute o valor da arte na contemporaneidade. Talvez porque há de se temer seus conteúdos. Dizem que ela, em suas diversas expressões (música, obras, ciência, literatura, pintura, poesia, etc) é supérflua, isto é, que não existe para nossa sobrevivência. É certo que para sobrevivermos e bem, talvez precisemos de muito além de pão. Precisamos de pão e circo. Nossos “instintos” nos obrigam... Nós precisamos de sexo, carinho, amizade, sermos reconhecidos entre nossos pares, precisamos de descanso, de deslumbramento, e de surpresa. (Nosso cérebro é comprometido com a possibilidade de existência de surpresas, é inato ao ser humano essa necessidade).

Difunde-se a superfluidade da arte. Mas eu me pergunto se o verdadeiro sentido que podemos dar à vida é o de que somos todos “artistas” de alguma forma. (Quis dizer aqui, artistas no palco da vida, no sentido “bom” e amplo da palavra, não relativo a uma possibilidade inata caricatural de artista de 15 segundos de fama, ou relativo á necessidade ou carência narcísica na busca de afirmação em relação ao outro).

No nível sutil da vida, o que ocorre quase sempre é uma procura inexpurgável de se encontrar um outro, de se relacionar com o outro. De fazermos da vida um algo compartilhado.
O trabalho, como algo aferrado somente à subsistência, vira algo morno com sintomas de podridão. É preciso algo mais. E algo mais movimenta o homem em seus desejos. O vínculo ora desejado, ora rejeitado, tem como padrão a imensa necessidade de estarmos unidos, mesmo quando achamos que estamos sós.

Voltando à sublimação, os prazeres ou capacidades na vida podem ser mais simples do que se imagina. A capacidade de ver, enxergar, ouvir, pensar já pode ser considerada em seu princípio um ato sublimado ou sublimatório.

A energia instintiva para a realização da pulsão sexual é limitada em um determinado período de tempo e espaço, sendo assim, a energia psíquica é direcionada para várias atividades humanas. No fundo, a Arte tem uma conotação sexual. Tem, porque, não que seja usada como substituto da pulsão sexual... Tem conotação "sexual" porque tem o objetivo de Atingir o Outro. Faz parte do instinto de Eros, é erótico... Seria um "Nu Artístico”... Desnudar-se para o outro ver. Ou pode ser até auto-erótico se a arte ficar restrita ao olhar do criador.

Sendo o objetivo deste texto o de apenas refletir sobre o assunto, não convém chegar a conclusões finais, ou saturar os conceitos em construção.
Seguindo a pergunta inicial proposta aqui no início desta exposição, acho que todos nós “sublimamos” de alguma forma. Alguns mais, outros menos. Para finalizar, não podemos deixar de citar alguns tremendos “sublimadores” : Shakespeare, Beethoven, Paul McCartney, Fernando Pessoa, Buda, Gandhi, Ayrton Senna, Freud, Jung, etc, etc, etc...

Além do Nariz (L.F. Veríssimo)

Além do Nariz (L.F. Veríssimo)

Certa vez fizeram uma homenagem ao boxeador Joe Louis, na época o negro mais famoso do mundo, e alguém terminou um discurso dizendo que ele era um orgulho para sua raça - a raça humana. Muitos anos depois, um cômico diria a mesma coisa de Michael Jackson, mas com uma maldade final. Ele era um orgulho para sua raça - fosse ela qual fosse!

Michael apagara todos os traços da sua raça original do rosto e o resultado não se parecia com nenhum grupo étnico conhecido. Nunca ficou muito claro, sem trocadilho, que rosto ele queria ter. Diziam que seu ideal de beleza era a Diana Ross, uma prototípica negra com feições brancas, mas ele não se contentou em ter seu nariz afilado e seus lábios finos. Continuou branqueando e esculpindo o próprio rosto até transformá-lo na máscara grotesca de um ser indefinível. Talvez procurasse ser de uma raça além da humana.

O dinheiro não traz a felicidade (manda buscar, disse um cínico). Mas há séculos se usa a riqueza para tentar vencer tudo que traz a infelicidade: a feiura, a raça indesejada e outras consequências da fatalidade genética, e o maior inimigo da nossa vaidade, a passagem do tempo. As múmias e todos os elaborados arranjos fúnebres para garantir a eternidade dos faraós existiam para combater esta injustiça: de nada adiantavam seu poder e sua fortuna se os faraós se degradavam e acabavam como qualquer servo. Não houve rei ou rico da Idade Média que não investisse na alquimia, que era a ciência de alterar a Natureza das pedras e dos homens, ou pelo menos dos homens que podiam pagar. Hoje existe uma indústria de cosméticos e mágicas rejuvenescedoras que movimenta bilhões e cujo objetivo final é o mesmo dos sacerdotes do Antigo Egito, nos embalsamar contra os estragos do tempo e nos garantir a vida eterna - enquanto dure. Michael Jackson também não achou justo ser rico e poderoso como um faraó e não poder alterar não apenas seu nariz como seu destino.

Martin Luther King resgatou a autoestima dos negros americanos com uma frase, mas Michael Jackson não concordou que black era beautiful. No fim, nem se contentou em ser banco, como não se conformou em envelhecer como qualquer um. Foi um grande artista e a comoção causada pela sua morte prematura é compreensível. Mas Michael Jackson foi, antes de mais nada, um trágico herói da insubmissão à vida.

“Sua calça tem dois bolsos”



Um discípulo comentou com o rabino Bounam de Pssiskhe:

“O mundo material parece sufocar o mundo espiritual”.

“Sua calça tem dois bolsos”, disse Bouhnam. “Escreva no direito: o mundo foi criado apenas para mim. No bolso esquerdo, escreva: eu não sou nada além de pó e cinzas. Divide bem teu dinheiro nestes dois lugares. Quando vires a miséria e a injustiça, lembra que o mundo existe apenas para que possas manifestar tua bondade, e usa o dinheiro do bolso direito. Quando estiveres tentado a adquirir coisas que não te fazem a menor falta, lembra do que está escrito no teu bolso esquerdo, e pensa várias vezes antes de gastá-lo. Desta maneira, o mundo material nunca sufocará o mundo espiritual”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

E COMO TENHO....E COMO

Os diversos tipos de saudade


Todo mundo fala em saudade, e nós brasileiros adoramos dizer que saudade é uma palavra que não existe em várias línguas (e realmente, “I miss you”, ou “je te manque” estão longe de expressar, exprimir o nosso “tô com saudades”).

Só que as saudades que nós sentimos têm variações; pelo menos pra mim, existem as saudades boas e as ruins, as nostálgicas resignadas, e as doídas. E só quem já sentiu cada uma delas sabe diferenciar uma da outra né?

Quando eu penso em saudades, lembro de uma música do Luiz Gonzaga maravilhosa regravada pelo Gilberto Gil, chamada “Qui nem jiló” (ouçam no blipfm clicando aqui). Olha só um trechinho dela:

Se a gente lembra só por lembrar

O amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade, entonce aí é ruim
[...]
Saudade assim faz doer e amarga qui nem jiló

Eu adoro a letra dessa música (acho o Luiz Gonzaga o máximo, aliás), daquelas que a gente para pra pensar no que o cara falou sabem?

Por exemplo, quando fala da saudade que a gente “lembra só por lembrar”, o Luiz Gonzaga diz que ela é boa, porque não se está sofrendo. Eu já acho que não é beeeem assim. Sim, pois há casos em que não se sofreu mesmo, e há casos em que se sofreu sim senhor, e como! – só que não se está sofrendo mais, e as saudades então nos dão uma nostalgia gostosa. Mas só são capazes de enxergar esse viés, só têm capacidade de sentir esse tipo de saudade as pessoas que conseguem não guardar mágoa e rancor: vc lembra das coisas boas, dá aquela saudadinha gostosa, mas ela não dói justamente porque vc não pensa (ou não quer) viver aquilo de novo; vc sabe que já foi, que faz parte do passado, e que é bom que seja assim (afinal tem tanta coisa pra gente viver…). Normalmente a gente sente esse tipo de saudade de de épocas boas da vida, de lugares em que se viveu, de viagens feitas, de pessoas amigas que perdemos o contato, etc (amores passados precisam de uma dose maior de compreensão e desprendimento, mas também rola).

Mas tem o outro lado da moeda né? Aliás, achei, enquanto dava uma fuçada na internet pra escrever esse texto, uma frase muito interessante no blog Azul Cobalto:

A saudade é um bicho. Pode fazer-se dele um animal de companhia ou uma fera imprevisível e de difícil doma. Em qualquer dos casos a trela deve andar sempre curta e firme porque sem saudade os bichos somos nós. E, se nos arranhar, há que lamber rápido para apanhar ainda o sabor da ferida fresca”.

Para usar a comparação utilizada no texto, a saudade domada é a boa, a que eu me referi lá em cima. A indômita (ou o outro lado da moeda da saudade “boa”), é aquela saudade doída, a dor da falta que a pessoa (ou um lugar, ou um grupo de pessoas ou uma época da sua vida) faz – e no entanto, vc sabe que não tem a menor possibilidade de rever aquela pessoa, reviver aquele sentimento ou então reviver aquela época da vida. É doído justamente porque vc ainda não se acostumou com a idéia de que algumas coisas não vão mais se repetir, não vão mais acontecer – só que vc não queria que fosse assim. Saudade doída sempre tem angústia e frustração dentro dela.

Mas ainda não falei da melhor e mais gostosa das saudades, a saudade boa meesmo: aquela com data pra terminar, aquela que a gente pode matar, aquela que a gente sabe que vai matar.

A diferença entre a saudade “doída” e esta última é praticamente a diferença entre gula e fome: enquanto a saudade que eu chamei de doída é quase um estado famélico, a saudade que a gente pode matar é aquela vontade de comer um doce no fim de semana depois da semana de dieta sabe? Sorte daqueles que têm o privilégio de senti-la.

Tem também um outro tipo de saudades, que eu julgo ser disparado o pior tipo delas: a saudade do que não aconteceu, a saudade do que não foi vivido; aquilo que Manuel Bandeira tão bem definiu como ” A vida inteira que poderia ter sido e não foi”; aquela vida que Fernando Pessoa, angustiado, perguntou um dia : “quem escreverá a história do que poderia ter sido?”.

Ah, essa saudade…não tem tempo no mundo que faça passar…

O segredo está em fazer com que, apesar de doída, ela não infeccione; está em aprender a conviver com ela, e aceitá-la como parte de nós. Está em dar um espaço para ela existir, ao invés de sufocá-la e fazer de conta que ela não existe. Não adianta alguém te dizer “vc não deve sentir isso”, porque todo mundo sabe que não deve. Só que fingir que ela não existe não a faz desaparecer certo? Porque afinal de contas, como diz Mário Quintana,

Somos donos de nossos atos,
mas não donos de nossos sentimentos;
Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos…
Atos sao pássaros engaiolados,
sentimentos são passaros em vôo.

Então, melhor deixá-los voar, melhor colocá-los pra fora – porque assim, eles não nos fazem mal. Certo?

EMAIL ENVIADO POR MINHA AMIGA JUSTINE CARDOSO