sexta-feira, 10 de julho de 2009

frio

Tenho dias de frio e negação. As lacerações da pele, os abismos das posses e perdas, os assombros de quem vive a margem, o delicado limite entre as desatenções e as delícias, as noites hélices, as palavras vítimas, as palavras coisas, as palavras foices, as palavras distância, e as dores que insistem, em dias assim, em não secar ao sol.


Há dias em que apeio de minha montaria. Ou, talvez, já não saiba mais meu ofício de reinventar girassóis. Ou amar com receios. E volto a andar de carro de boi, como antigamente, a melancolia e o ranger dos eixos, como minha cantoria e eu, descalço, na carroceria, olhando o entardeçer e imaginando que o mundo era extenso demais, as mulheres longas demais, o amor, longo e imprevisivel, esta armadilha arrodeada de impossíveis demais.

Há dias que estou ilegível. Não crio limo. Não condeno abandonos. Não basto, não faço feitiços. Reconheço e passo recibo das imensidões que não alcanço. Me sei escasso. Faço meu, de falhas e limites, meu tamanho e terreiro.


Há dias que não me aboio. E não sei me conduzir. Nem entre os seios de perdição, ou os risos de milagres. Talvez, talvez, sitiado, só não saiba mais meu ofício de fazer palavras flores...

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