sábado, 15 de novembro de 2008

SOBRE A IMPRENSA E SEU PODER


A lameira que é a imprensa não é coisa recente. Um dos maiores críticos desse poder que permeia a vida social é o mestre Honoré de Balzac, um escritor ímpar que detestava frases revolucionárias, mas legou à humanidade uma obra revolucionária e, mesmo conservador, era lido e admirado por ninguém menos que Karl Marx.

Um de seus livros que mostra claramente o poder da imprensa é “Ilusões Perdidas”, onde, de forma romanceada, o escritor desmascara a atividade jornalística. No início do livro, no “Convite à leitura”, não há nenhuma ilusão com relação à mídia:

“Imagine uma história ambientada nas redações de jornal do começo do século XIX. Como seria a relação com a notícia, o ambiente de trabalho?

Pois bem, se alguém pensou em ética e compromisso com a verdade, enganou-se redondamente. A preocupação com a informação era, muitas vezes, quase inexistente”.

Os bastidores da imprensa são mostrados através da vida do poeta Lucien Chardon. O jovem, buscando dinheiro e um lugar ao sol com seus escritos, sai de sua cidade rumo à luxuosa Paris, à convite de uma dama da sociedade que acreditava em seu talento.

Ao chegar à cidade ele é desprezado pela senhora que o acolhera e tem que se virar para sobreviver. Sem poder manter gastos extras, passa a freqüentar ambientes menos suntuosos, onde conhece um grupo de pessoas honestas e que levam a amizade a sério, mas não foi para isso que ele tinha viajado até a capital. Os interesses econômicos falariam mais alto, os avisos dos que se importavam com ele não seriam ouvidos, Lucien – agora com o sobrenome Rubempré, de origem nobre – tentaria a sorte como jornalista, e se firmaria nesse universo definido como “inferno, um poço de mentiras, injustiças e traições”.

Com a ajuda de quem já conhecia a sujeira do meio, Lucien vira crítico literário e descobre que se tornar um grande escritor não depende de quem escreve um belo livro, mas de quem redige uma simples crítica; e a arte não tinha relevância alguma nessas horas. O que se via era uma relação clientelista: “Em vez de ser um sacerdócio, o jornalismo se tornou primeiro um meio e depois um negócio para os partidos políticos. O jornal é um comércio que vende a informação que quer. Um jornal não é feito para esclarecer, mas para bajular alguns e arrasar outros”. Eis a função de utilidade pública a que se presta o periódico.

O mundo apresentado ao jovem era um lugar onde ter escrúpulos chocava, amigos eram esquecidos ou tornavam-se rivais e posições políticas eram negociadas. O dinheiro estava acima de frivolidades como moral e amizade.

Hoje não existem mais ilusões com relação à imprensa. Ela não faz questão de esconder seus desmandos, a ilusão não resiste ao olhar mais atento do leitor/telespectador. Entretanto, é a perda da ilusão a única forma de lutar para que o estado das coisas mude. É um alerta: o que parece bonito por fora – será que a imprensa ainda parece decente mesmo vista de longe? – pode não valer muita coisa se vista mais de perto. 

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