sábado, 15 de novembro de 2008

OBAMA É POP

Vejo e percorro jornais físicos e virtuais e, em todos, do mundo inteiro,  há um clima de enorme euforia pela vitória de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. Ainda de forma invariável, a cor de sua pele é mencionada na primeira linha de cada uma das matérias, quando não, é componente da manchete.

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Sim, o fato é extraordinário. Até pouco mais de 40 anos, um negro não poderia beber água no mesmo bebedouro em que um branco beberia o precioso líquido no mais poderoso país do planeta. Lembrei-me, então, de algumas histórias sobre a segregação racial nesse mesmo país. A música que poderia permear esse artigo é “Strange fruit”, na voz Bilie Holliday, que contava que essas estranhas frutas eram os corpos dos negros enforcados em árvores. Também lembrei da cantora de blues, Bessie Smith, que, após um acidente de trânsito numa estrada, morreu esvaindo em sangue por que o hospital mais próximo só atendia brancos. Lembrei também de Martin Luther King que dizia ter um sonho e, pelo que podemos constatar, o sonho se realizou.

Eu confesso que nunca vi tamanha comemoração por uma eleição presidencial nos EUA. Até mesmo quando o Al Gore foi garfado, a comoção não se compara em intensidade ao que estamos vendo desde ontem. Agora mesmo, ao passear pela edição online da L´Express, vejo um slide show mostrando cenas do mundo inteiro, em que as pessoas vão às ruas para cantar a vitória: Berlim, Viena, Jakarta, Tóquio, Londres, Paris e sei lá mais aonde, Obama é apresentado como um ícone pop. Um jornal do Rio de Janeiro trouxe um caderno especial hoje em que falava de catarse coletiva. Sim, houve, digamos um resgate desde que o primeiro negro escravizado pisou nos EUA. Um famoso jornalista o classificou como o “César negro”. Outro, um cronista, antigo cineasta, que fala em rádios e televisões brasileiras, até cantou parte da música Brasil pandeiro, do Assis Valente, para enaltecer a vitória de Barack Obama. A estrofe cantada foi: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor…”

Há promessa de mudança no ar. Mas, cara pálida, mudança no ar para quem? Nós, latino-cucarachas, continuaremos sendo latino-cucarachas para eles, mesmo que um negro tenha sido eleito presidente. Se algum tiranete, aonde quer que seja, botar as manguinhas de fora, a 7ª Cavalaria estará lá com Rin-tin-tin e o escambau usando a boa e velha, para eles, política do Big Stick.

E, em referência ao personagem da história universal, Júlio César; repito, aqui, uma frase famosa dita por ele e que pode muito bem servir para apresentar este momento e os próximos 4 ou 8 anos do mundo:

Alea jacta est / A sorte está lançada

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