segunda-feira, 17 de novembro de 2008

SHOW DE CARISMA E COMPETÊNCIA



Espetáculo da turnê do álbum Accelerate foi recebido com entusiasmo pelo público. Em apresentação triste e pra cima ao mesmo tempo, o R.E.M. mostrou que sua integridade artística permanece incólume


Eduardo Ribeiro, texto
David Peixoto, foto

"Você pode dizer que não manja muito de R.E.M., mas, depois de meia horinha de show, você vai descobrir que é fã e não sabia!". A frase foi dita por uma jovem na fila, à amiga que aparentemente estava lá porque ganhou ingresso ou algo do tipo. E, realmente, depois de certo tempo fora da mídia, é animador assistir a uma apresentação dos caras e perceber o quanto eles continuam em forma, e como são perenes e apaixonantes suas grandiosas composições.

A genialidade nerd de Michael Stipe (vocal), Mike Mills (baixo) e Peter Buck (guitarra) atraiu gente suficiente para lotar a pista da Via Funchal até o último degrau na noite de ontem, 11 de novembro. Foi a segunda apresentação em São Paulo (a primeira aconteceu na noite anterior), depois de iniciada a turnê brasileira em Porto Alegre e da passagem pela capital carioca. O show começou às 22h com a execução de "Living Well" e terminou por volta da 0h15, encerrando com "Man on the Moon".

O repertório privilegiou faixas do décimo quarto álbum de estúdio do grupo e motivo da turnê, Accelerate. Não faltaram sucessos como "Imitation of Live", "Everybody Hurts" e "Losing My Religion". "Everybody..." foi um dos pontos altos do set-list, junto com "One I Love" e "End of the World", a última antes do bis, que contou com mais cinco músicas para alegria da platéia.

Quando as luzes se apagaram, os telões, que deram um show à parte com a edição ao vivo de imagens pixeladas e night shots, colaborando para sublinhar o mito em torno da imagem de Michael Stipe, levaram os fãs à loucura com mensagens escritas em português num cartão e expostas à câmera: "Mais R.E.M.?; Mais Barulho?; R.E.M. ama SP". Aplausos, gritos, assovios e um monte de gente batendo o pé no chão...

Stipe voltou, com uma simpatia do tamanho do mundo estampada no rosto, falou sobre o quanto sempre quis conhecer São Paulo, pediu apoio à causa do pessoal da Anistia Internacional, presente no evento, e para que levantassem a mão aqueles que estavam animados com a eleição de Barack Obama. A grande maioria ergueu os braços.

Sem desmentir a reputação até aqui, a banda tocou as últimas músicas com competência, coesão e a energia esperada: na sequência, "Supernatural", "Losing My Religion", "Animal", "Auctioneer" e, finalmente, "Man on the Moon". Só ficaram devendo "Shiny Happy People".

O R.E.M., além de ser formado por devotados artistas, capazes de fazer música pop pela combinação de improváveis referências, é um daqueles grupos que conseguem estabelecer conexão imediata com as pessoas. O vocalista, num belo momento da noite, desceu para perto da grade e se deixou ser abraçado pelos fãs, numa total entrega. Todo mundo queria passar a mão na cabeça cuidadosamente raspada do cantor, e ele não se importava, muito pelo contrário.

São quase trinta anos na estrada, e a voz de Michael Stipe continua impecável, segura e dolorosamente emocionante. Ele esteve o tempo todo em primeiro plano, amparado por deliciosos arranjos de cordas e teclados. Quem foi que disse que popularidade não orna com boa música?

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