sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O PAÍS DO CENTRO NO CENTRO DA CENA


por CRISTINA R. DURÁN

Nossos repórteres passaram três semanas em Pequim e arredores. Viram uma amostra das transformações no país que tem um quinto da população mundial, os cofres abarrotados, e consolida-se como locomotiva da Ásia e integradora de suas várias regiões na economia global. é a china que, dizem analistas, está com o futuro da sociedade humana nas mãos.

Parece ironia do destino, mas com quase US$ 2 trilhões em reservas de moeda estrangeira, a China é considerada por analistas internacionais como potencial salvadora do sistema bancário ocidental. O país, que completa 30 anos de reformas econômicas sob a direção do Partido Comunista, provavelmente será o único em que a crise mundial pouco afetará o povo. As autoridades pretendem manter o rumo da modernização e a confiança de 1 bilhão e 300 milhões de chineses, um quinto da humanidade.

A capital, Pequim, é exemplo das transformações galopantes deste país, como constatamos o repórter fotográfico Amancio Chiodi e eu depois de passar 20 dias nesta cidade colossal. Fomos recepcionados pelos chineses com amabilidade e simpatia. Eles se esforçam para entender os ocidentais e para se comunicar.

Caminhar por aquelas ruas, muitas vezes, faz sentir que estamos no futuro, como o idealizávamos no passado. Basta virar a esquina de uma das muitas grandes avenidas pontilhadas por gigantescos edifícios, cujas fachadas exibem imagens coloridas em incessante movimento, para entrar num dos monumentos da arquitetura imperial – iniciada no século 13 e encerrada no seculo 20; ou mergulhar numa das centenas de hutongs que perduram e mantêm a tradição comunitária da Pequim antiga. Trata se de ruelas estreitas compostas de pequenas moradias que existem desde o século 14 e apresentam vida intensa: comércio de todo tipo, brincadeiras de crianças, velhos trocando peças em jogos de tabuleiros, gente se alimentando, bicicletas passando, mulheres varrendo, lavando roupa. Pequim, capital chinesa desde 1271, surpreende da chegada à partida. Tanto o visitante ocidental quanto um vizinho asiático, ou até os próprios chineses.  o turismo interno registra mais de 1 bilhão e 300 milhões de viagens por ano. Cerca de 110 milhões de pessoas visitam Pequim anualmente.

Com mais de 12 milhões de habitantes, oferece espaço para idosos e jovens na mesma proporção. A juventude ousa na forma de se vestir e cortar o cabelo. Usam roupas das principais grifes internacionais instaladas ali, Chanel, Ermenegildo Zegna, Armani, Zara, ou compram em enormes mercados repletos de falsificações. Todos falam pelo celular ou brincam com jogos desses aparelhinhos.

A PRÓXIMA GERAÇÃO VAI NASCER SOB UM NOVO PÓLO DE INFLUÊNCIA

Além da crise, há o clima a embaraçar o planeta, pondo em causa opções energéticas e nossa capacidade de assegurar alimento para todos. Fracassaram as negociações para um comércio justo. Cabe distinguir processos de dimensão histórica e opções políticas, para vislumbrarmos saídas.

É lícito ver chegando ao fim os três séculos de dominação anglo-saxã sobre os destinos do mundo. E comprovar o fracasso estrondoso das opções político-estratégicas dos neoconservadores do governo Bush.

O professor americano Walter Russel Mead tem uma bem construída e instigante reconstituição da era anglo-saxã, God and Gold. Britain, America, and the Making of the Modern World (Deus e Dinheiro. Bretanha, América, e a Construção do Mundo Moderno).
Ele orientou sua análise tendo em vista duas linhas de observação:

a) desde a Revolução Gloriosa de 1688, que estabeleceu o parlamentarismo e o protestantismo na Inglaterra, os anglo-americanos se encontraram no lado vitorioso dos grandes conflitos internacionais, o que lhes permitiu organizar o mundo em torno do domínio, por eles conquistado, das vastidões oceânicas;

b) à medida que aumentava seu poder, os anglo-americanos vieram se mostrando, cada vez mais, incapazes de avaliar o que esse poder e os correspondentes triunfos militares representavam para o resto do mundo.

Foram os holandeses, acentua Mead, que criaram no século 17 o sistema mundial de relações comerciais, investimentos e poder militar com apoio marítimo. Mas no final do século 18 os ingleses haviam criado versão mais eficiente e, no pós-Segunda Guerra, os americanos deram-lhe a expansão e nível de poder incontrastáveis de hoje. Não poderei acompanhar essa evolução. Mas é importante descrever um estado de coisas a que ela terá levado. 

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