sábado, 22 de novembro de 2008

CINEMA NACIONAL

Vamos cuidar do cinema nacional?




A frequência a filmes nacionais caiu 30% no primeiro semestre em comparação com o ano passado. Voltando ontem de carro pela estrada, ouvia no rádio a choradeira de cineastas conclamando o público a "voltar a gostar de cinema brasileiro" ou "se reconhecer na telona". Pura bobagem. Todos adoramos cinema, o que inclui evidentemente o cinema brasileiro. Talvez e muito provavelmente, a safra verde-amarela atual é raquítica em comparação ao apetite do público.

Trago aqui uma história cinematográfica mais importante para vossa apreciação, internauta.

Além do cinema brasileiro, o filme, precisamos cuidar do cinema brasileiro, o prédio!

Em Ituverava, cidadezinha onde nasci, havia dois cinemas: o "Regina" e o "Rosário". Sem contar esta pérola das fotos acima, o "Santa Cecília", que ficava no distrito de Capivari da Mata, vila com menos de 3 mil habitantes distante uns 10 Km da metrópole Ituverava, que até hoje tem os seus 30 mil.

Pois bem. Atualmente, o "Regina", totalmente desfigurado, virou uma igreja evangélica. De péssima qualidade, diga-se. E o "Rosário", coitado, com sua marquise que se projetava sobre a calçada protegendo os cinéfilos dos chuviscos de verão, foi botado abaixo. Virou umas duas ou três lojinhas de badulaques chineses.

Passar em frente a esses dois fantasmas quando visito minha cidade natal é a experiência que mais me corta o coração. Para mim o destino dessas duas salas de exibição de cinema é um documento eloquente do triunfo da ignorância e da truculência que nos ameaça nos dias que correm sobre a Terra.

Quem me conhece, sabe. Não sou de saudosismos. Mas devo dizer a vocês que no "Regina" e no "Rosário" vivi alguns dos principais momentos da minha infância e juventude. Da descoberta do amor, mão nervosa e suada sobre o encosto da cadeira procurando o primeiro toque na mão da primeira namorada... aos sustos, risadas, medos e suspenses compatilhados pela platéria na mágica projeção de imagens na sala escura.

Escrevo este post principalmente para convocar Ituverava e região, e quem sabe inspirar outras comunidades brasileiras a fazerem o mesmo: há um movimento pela recuperação do "Santa Cecília", essa jóia arquitetônica de Capivari da Mata ainda não devorada pelos inimigos da delicadeza. O artista plástico João Lourenço, que é neto do antigo dono, já iniciou um movimento pela sua reativação. Fez esta bela intervenção na fachada do cinema (terceira foto de cima para baixo). O trabalho foi selecionado para o Salão de Arte Contemporanea de Ribeirão Preto. Agora, o João quer fazer um documentário sobre a história para quem sabe ser exibido lá mesmo na reinauguração do cineminha charmoso de Capivari. 

Vamos cuidar do cinema nacional, o prédio?

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