sábado, 12 de setembro de 2009

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA

Post por S.da Matrix

Lembro que o lema do blog era "Por uma vida menos ordinária". Acho que isso dizia tudo. Os blogs nada mais eram do que registros de futilidades, uma forma de satisfazer a necessidade de atenção que todos nós temos (sim, estou me incluindo aí) em um nível ou outro. Dizem até que o nome Blog vem da sigla "B-log = Bullshit log", ou registro de porcarias.

Nesse tempo eu já estava há anos engajado no trabalho de fazer da Internet uma "Nova Alexandria", onde o conhecimento devia ser para todos, sem barreiras econômicas, linguísticas ou sociais. O conhecimento era disseminado de forma virótica, as pessoas estavam sedentas de informação, empolgadas com essa nova ferramenta que era a internet, mas confusas com todas as novas dificuldades que o cybespaço trazia. E uma mão lavava a outra, pacientemente, cada um da sua forma, somando forças para reforçar as trincheiras da sociedade livre. Essa fase romântica durou de 96 a 2000, por aí. A navegação foi ficando mais fácil, mais pessoas entrando e trazendo todas as suas bagagens emocionais para dentro desse novo território. E com isso a segregação por países, a má educação, a futilidade, o desprezo. O comércio deu a tônica, e como sempre fazem, investem na individualidade em detrimento da sociedade (dividir para conquistar... e vender mais).

Há uma certa decepção em ver aquilo no qual você investiu tanto esforço e esperança crescer e se tornar um adolescente medíocre, mas nem tudo foi perdido: se hoje temos MP3 de graça e filmes pra baixar, isso se deve ao esforço de milhares de anônimos que uniram força para lutar pela liberdade e dizer não ao paradigma do "pague para ter".

Mas, voltando ao blog, eu considerava essa ferramenta mais um reflexo da estupidez que estava dominando a internet. Mas aí eu pensei: eu poderia subverter o uso dessa coisa, e colocar tudo aquilo que sai da "normalidade" e que a sociedade faz questão de ignorar para manter o povo sem pensar, sem questionar. E minha vida era cheia de "causos" anormais. Então começou o Acid Blogger.

Minha idéia era ser o fósforo no palheiro, o detonador que levaria a pessoa a rever seus pré-conceitos, quebrar seus paradigmas e começar a espalhar - ela mesma - sua própria filosofia em outros blogs, nas suas próprias casas, etc. O destino deu sua forcinha quando o blog foi descoberto pelo pessoal do Somos Todos Um e eles passaram a escolher artigos semanais para publicar no site. Com isso o número de acessos foi catapultado de 20 para 100 visitas ao dia. Felizmente há alguns anos não era moda ser esotérico, então somente pessoas com a cabeça boa frequentavam o site, discordando, acrescentando, debatendo, tudo com educação e bom-senso... esses foram os tempos áureos do que já tinha se tornado o Saindo da Matrix. As pessoas tinham seus próprios blogs, que eu visitava e aprendia com elas, e reinava o espírito de comunidade.

Com o crescimento ainda maior do blog, achei por bem diminuir os relatos pessoais, e tentei até ocultar meu nick, trocando-o pelo impessoal "Saindo da Matrix". Afinal, sempre frisei aqui que o importante eram as idéias, não a pessoa. Mas as pessoas antigas já me conheciam por Acid, e assim começou um processo de identificação do conteúdo do blog com o mantenedor do blog (justo o que eu procurava evitar!). Isso traz dois perigos: um, a adoração, a maior de todas as ciladas. Outro, o ódio e inveja de pessoas medíocres - mergulhadas que estão no individualismo e competitividade, necessitando por isso de auto-afirmação - que não conseguem ver nada ser construído para a prosperidade do próximo sem ficarem profundamente irritadas. E assim o blog atraiu uma leva de espíritos cujo interior são trevas, e que, ao trazer à tona o pior do lado humano, me fizeram cada vez mais desgostar de escrever aqui. Os outros membros da comunidade blogueira também tiveram seus motivos para parar, e assim a corrente se desfez.

Todos perdem quando uma alma se cala. Cada pessoa é única, e pode (deve!) contribuir desinteressadamente para o crescimento do próximo com sua experiência. Se hoje temos uma lâmpada é porque Thomas Edison tentou mais de 1.000 vezes atingir esse objetivo. Como bem observou Einstein, "cem vezes ao dia eu me lembro de que minha vida interior e exterior é baseada no trabalho de outros". Não devemos deixar que apenas a Rede Globo ou o Governo Federal cuidem de nossa formação. Precisamos ouvir a dona-de-casa, o lixeiro, o funcionário público, o garotinho da venda, e também um pouco de cada pessoa que passa pela nossa vida. Isso nao significa concordar com elas, mas aprender com elas! O discernimento é seu, ninguém vai roubá-lo! Só uma pessoa insegura tentará impor sua verdade!

Gostaria que o blog voltasse às raízes, mas sei que é impossível... ainda vou tentar falar um pouco das minhas experiências, porque elas quebram a resistência mental de muitos que também passam a encarar suas próprias experiências de forma mais natural. Gente, eu já vi coisas que nunca pensei que veria, passei por experiências que só lia em livros, como posso ser cético e ignorar isso? Como posso guardar isso só pra mim e deixar milhares de outras pessoas que passam pelas mesmas coisas achando que são loucas, e eventualmente se tornando loucas por conta de remédios que são diagnosticados pelos "sãos"?

Existem dois mundos: o mundo em que vivemos, e o mundo que nós percebemos. E ambos podem ser muito, muito diferentes. E qual dos dois é o "real"? Será que temos de confrontar nosso EU para adequar o mundo que percebemos à expectativa da família, amigos e da sociedade? Tem um filme que gosto muito e me inspira, que é Amélie Poulain. Uma mulher sensível, livre das amarras da Matrix, e por isso mesmo deslocada da sua "realidade". Ela resolve então injetar um pouco do mundo dela na vida dos outros e, assim como um Buda, iluminar a vida das pessoas, nem que seja por um único instante.

No filme tem uma música que me serve como lema, e que sempre ouço para criar coragem:


Les jours tristes
Por Yann Tiersen & Neil Hannon

It's hard, hard not to sit on your hands
And bury your head in the sand
Hard not to make other plans
and claim that you've done all you can... all along
And life must go on

It's hard, hard to stand up for what's right
And bring home the bacon each night
Hard not to break down and cry
When every idea that you've tried has been wrong
But you must carry on

It's hard but you know it's worth the fight
'cause you know you've got the truth on your side
When the accusations fly, hold tight
Don't be afraid of what they'll say
Who cares what cowards think, anyway
They will understand one day, one day

It's hard, hard when you're here all alone
And everyone else has gone home
Harder to know right from wrong
When all objectivity's gone
And it's gone
But you still carry on

'cause you, you are the only one left
And you've got to clean up this mess
You know you'll end up like the rest
Bitter and twisted, unless
You stay strong and you carry on

It's hard but you know it's worth the fight
'cause you know you've got the truth on your side
When the accusations fly, hold tight
And don't be afraid of what they'll say
Who cares what cowards think, anyway
They will understand one day, one day.

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