quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Aprendendo com os mestres Sufis

Vou contar a partir de agora um pouco da saga da busca aos " Mestres de Gurdjieff".


Gurdjieff era um mestre espiritual greco-armênio, figura enigmática e uma força crescentemente influente no panorama contemporâneo dos novos ensinamentos religiosos e psicológicos. Assemelhava-se mais com a figura de um patriarca Zen ou de um Sócrates do que com a imagem familiar de um místico cristão.
Gurdjieff era considerado, por aqueles que o conheceram, simplesmente como um incomparável “despertador” de homens.
Ele trouxe para o Ocidente um modelo abrangente de conhecimento esotérico, e deixou atrás de si uma escola que incorpora uma metodologia específica para o desenvolvimento da consciência.
Foi aluno de mestres sufistas, no remoto Afeganistão, e aqui descrevo uma passagem de seu aluno Rafael Lefort que, ao buscar as origens dos ensinamentos do Mestre, seguiu os mesmos passos da viagem , viajando em busca de respostas.

É uma história cheia de ricos ensinamentos, entre estes a beleza do Sufismo e a aprendizagem incompreensível para nós ocidentais, que vivemos sempre a perguntar, questionar, sempre e cada vez mais, sem nem ao menos refletir sobre o que realmente queremos perguntar.
Pelo menos , é o que mais tenho observado nos grupos que participo. E muitas vezes neles me incluo, me esforçando para pensar antes de questionar.

Muitos fazem perguntas, e por não entenderem lá no âmago do seu ser o que realmente querem aprender, demonstram nada saberem como formular uma simples pergunta.

E pior, nunca escutam as respostas.

Palavras são jogadas ao vento!!!!

O autor saiu da Europa e, seguindo com muita dificuldade os passos de Gurdieff, queria participar de uma reunião sufi em busca dos Mestres de seu mestre.
Nós,os ocidentais, adoramos reuniões onde discutimos idéias e saímos muitas das vezes sempre com nossas próprias convicções e verdades . Sequer lembramos do que o outro disse, mas sempre tudo o que nós nos posicionamos.

Muitas surpresas o aguardavam... ao invés de doutores ou Gurus, era sempre encaminhado a calígrafos, ferreiros, tecelões e a cada pergunta que fazia, uma devastadora resposta lhe era devolvida. Tonto ficava pois queria ávidamente respostas e sempre lhe enviavam a outros e lhes falavam sobre o ofício que ensinararam a Gurdjieff. E os ensinamentos? E as respostas? E as palavras? Os manuscritos?

Uma das passagens que considero excepcional e vocês me acompanharão nesta minha própria viagem....

" Era impossível obter o endereço do Sheik... Logicamente eu não estava em condições de fazer citações nem de identificar frases que deviam pertencer a escritos de mestres derviches.

Todavia continuei indagando. Quem era o Sheik ul Mashaiks? De que ordem era o Sheik? possuía ele o poder dos mestres Sufis? Todas essas perguntas foram respondidas de maneira enigmática...
........
Quase três semanas depois, durante as quais torturei a mim mesmo com dúvidas, repetindo vez após outra as respostas que tinha recebido e as diretrizes que podia identificar como tais, recebi uma palavra para me encontrar com um dos discípulos do Sheik, na loja de Sulaman Turki, no mercado de tecidos.

Corri para lá e achei a loja cheia de compradores e amigos. serviram-me chá verde e sentei-me mudo sobre uma pilha de tapetes, demonstrando externamente essa paciência que tentava cultivar. A conversa era sobre tapetes, o estado em que se encontravam as estradas e a demanda por certas cores e desenhos.
Prestei pouca atenção pois algumas línguas eram desconhecidas para mim e, de toda maneira, eu estava ali esperando alguma indicação sobre como ou onde poderia ver o Sheik. Na verdade a mensagem não continha tal promessa, mas eu estava convencido de que ia aparecer em algum momento.
Nesse estado agudo de excitação, não me dei conta de que um dos fregueses estava dirigindo-me uma pergunta em Persa.
Voltei de minha divagação ao ouvi-lo repetir:

- O Senhor acha que este tapete seria bom para ser usado nas minhas meditações?

- Sim - respondi - não vejo por que não.

- Não vê por que não - veio a resposta devastadora - porque não o olhou. As cores são sem harmonia e incomodariam. A trama do desenho opôe-se à corrente do pensamento positivo e perturba a tranquilidade da mente. Com uma avaliação tão primária sobre uma coisa tão simples como esta, o senhor demonstra bem pouco talento e no entanto pretende entender coisas de um professor de Jurjizada!

Endireitei-me com um tranco - Então o senhor ... o senhor é o Sheik Daud!

- Sou eu.
- Sinto muito, veja...
- Vejo claramente.
- Bem, queria dizer...
- Que quer dizer?
- Necessito de ajuda.
- Com que finalidade?
- Para encontrar a mim mesmo.
- E depois?
- Para estar em harmonia com o desenvolvimento orgânico do cosmos.
- O senhor tem opiniões muito elevadas sobre o seu lugar no cosmos!
- Sheik, reconheço a minha insignificância mas sem compreender o quanto sou insignificante, nada poderei fazer de construtivo a respeito de minha condição.
- Como sabe isto?"
.........

Não olhamos o tapete em que estamos sentados e já queremos definir todo o Cosmos!!!

Enfim, a história é longa e plena de ensinamentos, mas o principal , que me ficou é que não precisamos viajar tão longe a buscar novas maneiras de enxergar o mundo; que não precisamos de grandes distâncias, que a nossa maior viagem é encontrar dentro de nós mesmos o ser que está ali, a conhecer na realidade quem é você, com humildade, com profunda sinceridade.

E aqui no nosso meio, abandonar velhos clichês, olhar pra dentro de si mesmo, derrotar o grande "ego" que nos impede de entender as mensagens do nosso próprio corpo, que pede-nos simplesmente água ou um chazinho gostoso e não ouvimos a voz de nossa máquina mais vital, empanturrando-nos de outras substâncias.

Aprender a ouvir mais, a ser mais simples , mais puros...

No meu trabalho com TVP, muitos me perguntam para que é feito, já com suas respostas preconcebidas; calmamente, vejo pessoas em total desequilíbrio , atormentadas pelos fantasmas do passado - que cultivam com seus comportamentos repetitivos , criando algemas na alma - que logo após perguntar , afirmam não acreditar em terapia de vidas passadas.

Que se fomos agraciados pelo nascer com o esquecimento do passado para que intentar relembrar-se dele. Sim, quem aguentaria nascer sabendo tudo que foi nas outras vidas.
O interessante é que a maioria diz: como "eu" suportaria viver com "ele", este atroz inimigo. Nunca o contrário, que será que fiz ao meu irmão para que ele não me suporte.

E para que existiria a reencarnação, pergunto eu, se fosse uma constante lembrança, nascer outra vez para quê ?
Isso é lógico.

Sabemos, porém, que não precisamos lembrar nada do que fomos, pois o passado e a lei de causa e efeito bate à nossa porta.
Nossos pais, nossa família, nossas dificuldades de relacionamento, de trabalho, nossas carências afetivas... todas voltam e são os sinais daquilo que viemos para "refazer" .
Mudar padrões de comportamento, amar mais nossos desafetos, amar mais a nós mesmos.
Como? dirão vocês, sendo mais egóicos, sendo o centro do universo?
Não. Amar a nós mesmos: não se encolerizar tão facilmente, não guardar tantos rancores, não sermos "pobres vítimas" dos outros, sempre colocando no outro o poder de decidir por nós e depois reclamar da sorte.
É entender que com nossas mágoas, baixamos nosso campo vibratório e ficamos a mercê das doenças, que primeiro atacam nosso períspirito e depois se alojam no corpo físico.

É o Orar e Vigiar, principalmente os nossos inimigos mais poderosos - aqueles sentimentos que deixamos se instalar em nossos corações.

Nós esquecemos ao nascer nossas vidas pregressas, mas as situações que constituem os aprendizados desta vida, aquilo que foi programado para evoluirmos, chegam sempre até nós. É a vida do agora.

E se nos encontrarem despreparados, se não cumprirmos os mandamentos dos Mestres Maiores, as leis de equilíbrio que governam nosso Universo, desavisados, sem seguirmos as leis morais, se não fortalecermos nossos bens espirituais, se ficarmos desatentos perante a vida, vamos adoecer.

Perguntam-me por que fazer TVP?

Para utilizando a regressão hipnótica e uma condução bem direcionada, fazer com que nossa consciência volte "aquele" somente "aquele ponto kármico" mal resolvido que não conseguimos conscientemente nos curar, para neste estado alterado de consciência, vivenciar esses padrões repetitivos, e expurgar a dor acumulada, limpando do nosso cotidiano os sintomas dolorosos , traumatizantes que nos fazem sofrer.

Conto-lhes mais um segredinho meu: algumas pessoas são bem interessantes, quando sabem que sou amante da Astrologia afirmam categoricamente, muitas vezes displicentemente, que não acreditam em nada disso.
Após nosso diálogo sobre outros assuntos, lá no finalzinho do bate- papo me perguntam: então, o que você me diz sobre o signo tal (o dela, é claro).
E eu, não por revide, mas porque faz parte do meu karma trabalhar com a aprendizagem e o ensino, amo dialogar com pessoas. E essencialmente por me respeitar muito, por amar tudo que faço, respondo: Nada, nada tenho a lhe dizer , pois você não acredita no que eu acredito!
Eu estou aprendendo a não gastar palavras, a não jogá-las ao vento. Antes, quando era neófita, excitada por convencer pessoas da minha "verdade", explicava e até conseguia "adeptos".
Mas... estou aprendendo a não falar demais, a respeitar o limite do outro e ao entender os subterfúgios da mente que pergunta... calo-me.
Cada um tem sua hora de aprender e cada um sabe o que lhe é necessário saber ou dizer.

Minha constante atenção: é preciso pensar mais que duas vezes antes de falar, é fundamental saber o que se quer aprender ao se questionar alguém e, ao ouvir uma resposta, não refutá-la na mesma hora, analisar o que foi dito.



* fonte: livro Os Mestres de Gurdjieff - autor Rafael Lefort

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