Por Nelson S. Lima, do Instituto da Inteligência
Em teoria, não há mal nenhum em ser supersticioso. Você pode acreditar na "lei da atração", por exemplo. Qual é o problema? A probabilidade maior é verificar que é apenas uma crença (eu sei que aqui chegados já temos uma série de leitores a dizer que eu estou errado, que não sou um "iluminado" e ignoro a relação das forças cósmicas com as mentais/espirituais). Mas deixem-me continuar pois não vou acusar nem ofender ninguém. Vou apenas dar uma breve explicação psicológica da superstição e da magia.
Os fundamentos das superstições estão escondidos nos recônditos das nossas memórias biológicas. Somos seres supersiticiosos porque durante milhões de anos fomos forçados a acreditar que forças invisíveis e estranhas coincidências não compreendidas (como os galos cantarem ao nascer do Sol) fazem parte do nosso mundo.
O que é interessante é que as superstições - que são baseadas em sistemas de crenças antigas - podem contribuir para a saúde mental. Sem essas crenças perdemos um sentido de referência e uma sensação de poder sobre diversos acontecimentos. Muitas susperstições são inconscientes. Querem conhecer uma?
Coloque um espectador a acompanhar, ao vivo, um jogo de futebol de sua equipe predileta. É provável que ele siga, com emoção, os diversos lances, grite e gesticule para "dentro do campo" como se estivesse no estádio. Inconscientemente a pessoa "acredita" que pode influenciar a partida. A prova? Se a mesma pessoa ver apenas uma gravação do jogo acontece que ele assiste ao espetáculo com muito mais serenidade, sem gritos nem gestos, pois embora possa não saber o resultado, ele "sabe" que o jogo já aconteceu e já não tem qualquer influência no mesmo. Para quê gritar se o jogo já ocorreu antes?
Na verdade, o pensamento supersticioso - semelhante ao pensamento mágico - baseia-se no chamado "princípio da similitude" defendido pelo antropólogo escocês James Frazer, há cerca de 100 anos. Este princípio diz que se uma ação acontece depois de outra acreditamos espontaneamente que a primeira é a causa da segunda. É o que os psicólogos chamam de "processo pseudo-causal". Assim surgiram os amuletos, as rezas, fazer oferendas a santos, o evitar cruzar-se com gatos pretos, fazer certas coisas em determinadas horas e lugares, etc. Isto é tão forte que até alguns cientistas revelam ser supersticiosos. Conheço um que entra no seu gabinete com a perna direita porque acredita que assim o dia correrá melhor.
A agora famosa "lei da atração" - popularizada pelo livro O SEGREDO - diz que "se quisermos algo com toda a força e crença, o universo ouve-nos e os desejos concretizam-se" mesmo que seja ganhar a lotaria e ficar rico. Acontece, porém, que milhões de leitores chegaram à conclusão que o acreditar não basta, que a "lei da atração" não é uma garantia para nada e que tudo não passou de um embuste que ainda continua a enriquecer muita gente (e quem? os autores que continuam a escrever sobre a matéria). Consideram-se geralmente pessoas "iluminadas" e acusam os céticos de "reles materialistas".
Enfim, as superstições são ingênuas e irracionais, mas a verdade é que os psicólogos estão de acordo quanto ao fato de que elas dão ao homem a sensação de controlar uma situação, mesmo que ilusória. E isto, como afirmou o psicólogo austríaco Gustav Jahoda, "pode contribuir para preservar a integridade do conjunto da personalidade" e talvez tenha contribuído para que a humanidade sobrevivesse a períodos de grandes calamidades (catástrofes em grande escala, epidemias perigosas, etc.).
ANEDÓTICO, MAS REAL:
Os animais também desenvolvem crenças. Numa experiência de laboratório colocou-se um prato vazio a cerca de 2 metros de um ratinho. Dez segundos depois colocava-se comida.
Agora reparem neste pormenor: sempre que o ratinho, na hora de comer, corresse e demorasse menos que 10 segundos pra chegar ao prato, este continuava vazio. Verificou-se que o rato demorava cerca de 2 segundos pra chegar ao prato. Quando isso acontecia, não havia comida. O que aconteceu depois de algumas tentativas e erros por parte do animalzinho?
Ele intuiu que, se fosse logo correr para o prato, não haveria comida. Associou a sua pressa à falta de comida (processo pseudo-causal, uma concepção errônea do princípio da autoridade). O ratinho, tal como os humanos em outras situações, confundia correlação com causalidade, baseado no tal "princípio da similitude" acima focado. Para ele, o fato de correr era o que provocava o "prato vazio". Passou a ir devagar e a demorar 10 segundos convencido que isso é que lhe garantia comida. Pura ilusão. Superstição adquirida.
POST DE SAINDO DA MATRIX
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