terça-feira, 30 de junho de 2009

paixões virtuais..serissimo....muitoo serio mesmo

Após o expediente ela vive seu grande amor. Como todo mortal chega em casa toma seu banho, se arruma e vai ter com sua paixão. Perfume, brincos, tudo ar leve e sensual, nada vulgar é só uma moça apaixonada.


Senta se em seu quarto e fica das 18 horas às 3 da manhã com sua paixão.

Ela mora em Goiânia ele na Tasmânia. Programaram até um encontro em 2014 na Itália para comemorar suas núpcias.

Esta é a paixão de sua vida. Ela aos 24 anos de idade vive um amor virtual. O carinho dando se por uma webcam, o beijo em um "smack" teclado, a zona erógena mais atiçada de seu corpo seus dedos que estão calejados nas pontas. Ela mais uma mulher moderna vivendo as fantasias quotidianas. Saciando se sozinha com seu amado distante, mas ao mesmo tempo tão perto. Fome de boca cheia.

Nas horas de folga se amaldiçoa, Deus tão injusto colocando seu bem para nascer tão longe, do outro lado do mundo. Praga do destino, Satanás tentando a Deus. Ela um Jô moderno resistindo a vida.

Mas ela é fiel, todos os dias chegando do serviço à mesma rotina.

Dedicação integral a seu amor. Com o tempo surge os ciúmes. Ela quer sair, mas o namorado de longe não deixa, até liga via skype para tentar a controlar, saber se ela chegou quando cansada de digitar pela ler. Assim vai vivendo seu amor. Nos sábados, domingos feriados o que lhe sobra é um "smack" digitado deixando um leve sorriso e um brilho opaco em seu olhar. Ela jura que é feliz assim...Será?

Quando abordamos as psicopatologias do mundo virtual uma das que mais chamam a atenção é a substituição da vida real pela vida virtual especialmente no contexto afetivo. A busca de um sentido de vida baseada em uma ilusão. Um daimon pervertido.

O problema não é encontrar alguém distante, ao contrário, grandes amores não escolhem nem hora, nem local adequado. O problema que gera uma psicopatologia de um mundo virtual é a substituição da vida por uma vida ilegítima. 2014 para as núpcias, com um homem que a pessoa jamais viu, sentiu o cheiro, beijou, tocou, abraçou?

Em nosso quotidiano encontrar alguém com que ocorra a química é algo difícil. Uma relação afetiva virtual queima a etapa do conhecimento básico, uma das principais, a questão de pele.

O estabelecimento de relações virtuais é complicado por que neste campo desconhecemos literalmente o outro, assim vivenciamos a distancia uma relação que é ilegítima. Pela internet você torna se o que você quer ser. Defeitos são camuflados e ignorados, as fantasias tornam se acentuadas, o convívio inexistente e a carência dos usuários imensa chegando as anormalidades do convencional.

Na maior parte dos casos o que ocorre é uma indisponibilidade para um relacionamento genuíno. Pessoas com muita dificuldade para se relacionar abdicam da vida para viver na fantasia, na fuga, o que na prática tem dificuldade.

Assim o companheiro (a) torna se o real ser idealizado sem defeitos, não pega no pé, sempre disponível a um toque de teclado, sem odores, quase sem nada. É o mito que surgiu com força, o príncipe encantado de capa e espada, a princesa encantada perfeitos em sua camuflagem. Pena que no convívio do quotidiano tais máscaras vão cair e a realidade de cada um vai se instalar querendo ou não.

O problema arquétipico desta realidade virtual é a cisão com a vida prática. O imaginário sobrepondo se a vida. O faz de conta infantil brincando de amar. De longe toda goiaba é cheirosa pena que quando perto apresente seus defeitos, odor, sua proteína em forma de bicho que da goiaba também faz parte.

Esta cisão arquetípica se consolida ainda mais com o estado maníaco contemporâneo da falta de limites e regras. Os excessos totalitários da atualidade. Assim alem da questão da paixão sua força maníaca de excesso, todos os dias 8 horas na frente de um teclado buscando uma vida imaginária que satisfaça a carência que só aumenta qual um dragão devorador. Mas o estado maníaco camufla o aumento da carência, e rouba da vida sua graça. Instala se um vício que então utiliza a desculpa do amor, da busca da felicidade como atenuante social. Até que um dia a energia cai, o computador pega um vírus, e a fantasia se desfaz.


Jorge Antônio Monteiro de Lima: Analista; Psicólogo Clínico em abordagem humanista; Psicoterapeuta de grupos, individual, casal e família; pessoas com necessidades especiais e pacientes da saúde mental; Presidente e fundador da ONG Instituto Olhos Da Alma Sã clínica-escola; Fundador do GRUPO DE APOIO em saúde mental (G.A.S.M.) especializado em prevenção e tratamento em saúde mental e atendimento de pessoas com necessidades especiais; Pesquisador na área de saúde mental e inclusão de deficientes;

Fonte: http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=5663&pageNo=1#23279

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